O Homem em sua caminhada terrena tem sido o reflexo de escândalos e atrocidades. Em seu livre arbítrio acha-se no direito de desencadear guerras e devastar a natureza em nome do progresso e esquece-se que é apenas um tijolo nesta grande obra do Criador. O que nos dá o direito de subjugarmos nossos irmãos, de não aplicarmos a Lei Maior que é a Lei do Amor?! Onde nossa prepotência e vã filosofia nos levarão?! Há desgraça e destruição por todos os lados, focos de tolerância e de solidariedade ainda são escassos. Ainda enviamos aqueles que nos escandalizam para os leprosários modernos, ditamos para o outro as regras que egoisticamente criamos. Oprimimos o fraco e pensamos que temos todo o poder e em nossa covardia alardeamos que estamos salvos como se a Divindade não fosse justa e austera. Aderimos religiões e esquecemos que a salvação virá por nossas obras em nome do Salvador. Recusamo-nos em cada ato diário ao caminho, à verdade e à vida. Por que nos escondemos da Santidade e não olhamos em seu espelho? Quando olhamos o retrato do mundo como está pintada a nossa face? Quais são os pilares que no mundo edificamos? Quem de vós nesta caminhada terrestre tem sido verdadeiramente o espelho da imagem do Criador?!
Há uma melodia que ressoa no universo desde os primórdios do tempo, ouçamos a voz que nos fala no íntimo e que nos recusamos ouvir... Para onde nossos olhos direcionam-se, para onde nossas mãos dirigem-se, para onde estão seguindo nossos pés? Há riquezas infindas neste caminho por poucos percorrido e por vezes os espinhos as escondem, há que se ter coragem para descortinar este mundo ainda novo para os homens primatas, para os neófitos de espírito. O dia que olharmos para o que realmente somos, nossos corações serão flores abrindo-se ao Sol do eterno, aos cânticos celestiais. E seremos rubros como um amor poderoso, porque traremos nossos corações nas mãos, ofertando-os como dádivas, em graça e paz. Não nos fechemos ao estribilho das estrelas, visto que elas cantam silenciosamente as canções da eternidade. As odes que criamos num coração que ama é bálsamo, é poderoso remédio, é SALVAÇÃO.
O amor de Deus rebrilha sobre todos, como cintilantes raios renovando-nos o espírito eterno. A vida é dádiva preciosa, gérmen da inocência e da humildade, portanto, lapidemos este tesouro como se fosse filigrana de refinados traços, com a qual presentearemos o Criador. Teremos sido luz no caminho de nossos caminhantes, ou nossos discursos são apenas palavras ao vento?! Há um fanal para os que têm olhos de ver e ouvidos de ouvir, lá onde reluz a divindade há um sol perene a arder, calcinando as dores e purificando a felicidade. Joguem as sementes, há tantos jardins esquecidos, abandonados, flores do desprezo esperando as mãos férteis dos homens consagrados. Abramos nossos corações à iluminação frutífera, à claridade que provém do alto, larguemos a sombra da escravidão que nos impede o crescimento interior, façamos o aperfeiçoamento do verdadeiro “ser” que o Grande Pai há muito plantou na Terra. Qual tem sido o universo que vivemos?! Qual tem sido a vida que promovemos?! Qual tem sido o amor que propagamos?! Sejam tuas mãos lanternas para os oprimidos, Sejam teus olhos lâmpadas para os cegos, Seja o teu coração fogueira para os perdidos, Seja o teu abraço conforto para os aflitos, Sejam tuas palavras esperança para os descrentes. Faça neste mundo agora, hoje e sempre brilhar a Vossa Luz!
Há um sinal luminoso para quem sabe amar, uma D’alva luzidia que guia e conduz... Como não aceitar as flores e o perfume deixados em minhas mãos como dádivas neste mundo de desencontros?! E eu teço o meu caminho em tua direção, pois que é em ti que encontro aquietação e conforto. Não há donadio maior do que amar e ser amado, porquanto, dou-te o meu amor sem restrições de mente , sem limites de espírito, sem óbices de físico. Sou contigo alquimia que transcende projeções físico-químicas, pois que não há fórmulas para o inarrável que há em mim. A química que nos une é completa e complexa, e no entanto tão simples de definir, é panacéia que trabalha a cura com as cores do arco-íris e que transforma o que te tenho em ouro límpido, em diamante raro, em pedra filosofal de todas as épocas, amor!...
Ah! Esta saudade devora-me e implora-te a toda hora. Ouvir-te sorrir tão longe é cruel, mas, saber-te feliz é minha doce alegria... então sorrio, sorrias. Esta dor singular, saudade terna, leva-te o beijo leve que te dou.
Abro-te o meu coração... quero ir mais além do que pegar em tuas mãos. Roçar em ti, deixar meus lábios colarem nos teus... Calor, carinho, encostar teu peito nu no meu.
Minha alma, meu coração na brisa ao teu encontro vão... Paixão, devoção... ânsia, desejo, tesão, total união. Em meu caminho tu és luz, és clarão.
Na penumbra em que vivo a ti vislumbro, quero sim, quero ir ao teu encontro, pois que és encanto nesta contenda, nesta bravura que é te possuir.
Busco esta fresta, feixe de luzes em ti, pois que em mim abro esta brecha... Nada te peço, mas, não me impeças a sedução.
Entrego-te toda a vontade, força indômita, flor, flerte, deleite, tal castidade... todo o meu ser, toda a fúria, o meu próprio coração. Devora-me!!!
Há um sol lá fora que segue elevado que ao mesmo tempo que arde sobre os homens, também arde dentro de mim... Ah!...Estes meus humanos rumos vividos em divina essência no simples fato de tu existires... Como voar em teu páramo azulado, impermisto, irretocável em amor?! Eu traço meu voo cego sabendo onde chegarei, eu levanto minhas arrojadas asas conhecendo o que saberei... Nesta história encantada, nada encanta mais que o teu fado lírico, que a tua alma alada. Laços profícuos que tomaram meus sentidos todos, que povoaram meus pensamentos muitos, que afloraram deleites em minha pele e flores em meu caminho... Dá-me teu meigo olhar como preciosa joia, tua rara beleza neste mundo insano para me curar, tua destra forte neste globo parco em afeto para me maturar. Teus campos vastos são premissas de um futuro bom que virá, e eu prometo em tua várzea fértil ser embrião frutífero a te alimentar em sumo amor, em excelso amar...
Eu avisto os lírios do campo, mas ainda não encontro repouso... flor-de-lis onde deposito saudade... lágrimas... Minha aura exposta aos açoites do mundo, meu coração aberto ao maior sentimento da Terra, é o que me move, é o que me impulsiona e alenta-me. O campo que vislumbro a minha frente é vasto, tão amplo quanto esta esfera injusta, hipócrita da desumana humanidade. Contudo, o mundo ainda não me venceu, posto que todos os dias eu edifico dentro do meu peito o meu mais íntimo desejo, pois que não há limites para a liberdade que proclamo em minha verve, o voar livre que intenta a minha alma, e este grito que não cessa o meu suspiro, que só faz ardente as aspirações que em mim se infundem... Sobejam e retemperam-me. Sobre humana sou quando pouso o meu cansaço em teu abraço, quando reescrevo a poesia tantas vezes alquebrada pelos ínvios caminhos dos homens. Ainda impera a tua doce rima em meus lábios, como um cântico agridoce que me edifica para o ser, para o ir, resistir além de todos, além de tudo. Despeço-me todos os dias da tristeza, porque busco em cada tarde a doce espera que me convoca a seguir adiante, e seguir irei. Sobre pontes, areias, estradas eu suplanto os muros do egoísmo, o falso amor que envenena o sangue de toda esta raça de seres... Em minha autenticidade eu sigo só, pois sós são os que abrem o peito, e sangram de verdade; e eu esvaio-me vida afora pelo puro êxtase de viver um amor poderoso. E quererei sempre a verdade luminosa como o sol que me levanta todos os dias para o teu despertar profícuo. E neste amor que me aclama heroína, e nesta dor que me declara mártir, neste reinado que me intitula rainha inglória, eu sei que a vida me ofertará os verdes louros, os verdes louros da vitória, amor!...
Muitos alçam seus próprios voos, um voo solo, e na amplidão celeste suas visões ficam mais curtas, e mais micros e diminutas as suas sensibilidades. No macro que abarca a existência, há de se ter olhos de águia para planar e avistar o mundo que aspiramos, o mundo ideal. No expresso da vida, há a pressa dos presos, escravos do dia-a-dia, há as correntes do mundo com gosto de sal da Terra. E nesta viagem solitária, solitários estão, apreensivos pensam que estão convictos de seus planos e rotas. Ah! Como somos soberbos, irmãos da invigilância, amigos somos das serpentes enfeitadas, do que reluz e não é ouro. Espreitamos do alto as vidas alheias, os recônditos desconhecidos dos anônimos da vida e com o dedo em riste apontamos soluções. Indicamos aqueles que precisam do resgate urgente, da pseudo salvação e não nos preparamos para nossas próprias tempestades, não sabemos secar prantos, não sabemos plantar esperanças, não sabemos colher amor. Pensamos que em nosso plainar estamos isentos, estamos a salvo das intempéries, não estamos sujeitos as aflições do mundo, tampouco aos espinhos das rosas. À medida que engolimos distâncias, distantes ficamos do que nos é valioso, do que nos nutre o espírito, do que nos investe de força e de coragem para o contínuo voo da dignidade em nós, das reais vozes da liberdade. Meu trem ainda não passou, minhas metas ainda as teço com esmero, pois que meus sonhos ainda não morreram, e o meu âmago, embora contrito, desconheça frustração.
Tenho inalado todos os perfumes...Mas, só o que de ti ficou reanima-mepara a continuidade da vida, vivifica-mepara todos os sabores do mundo.Nas noites insones a cortina da lembrançaé-me bálsamo para o coração inquieto.Meus olhos pela manhã abrem-se ao solque outrora brilhou em meu caminhopermitindo-me o teu calor deífico, porqueem ti eu vislumbrei um arco-íris de belezastantas, de caminhos coloridos... saudades...Não há como nominar os dias sem ti, sem oteu remanso... esperanças...Não há como admitir meus lábios sem os teus,naquele terno abraço que nos reconstruía...Angústias...Não há como permitir-me ao prazer sem o teuprazer, onde nossos corpos entendiam-se...Solidão...Sonhos amarrados em meu peito atrofiam-meas asas, limitam-me o horizonte.Eu quero as montanhas verdejantes do teu leito,a liberdade para voar em tua vida...Amor...
O meu sol põe-se diariamente em teu horizonte perpétuo, bonito... Intrigante senti-lo em minha alma ainda ardente. Em teu hemisfério abastado, radioso eu percorro tuas cores de arco-íris e intuo o teu aroma agradável de jasmim. Em tuas asas morenas faço interestelar viagem... Em tua admirável morada a tua D’alva é quem me guia, assim eu percorro o teu planeta flamante feito rebento em um mundo novo, encantado. Em teu celeste corpo, belo, prazeroso eu levito feito criança e brinco em teu transcendente jardim de sonhos!...
O páramo que sobrevoo em tua morada é de azul sem par, infinito, transcendental.... Tuas estrelas resplandecentes mostram-me caminho contemporâneo. Não temo a tua rota, porque o teu rumo eu vou tomando como nau... Não posso parafrasear tal sortilégio. Teu sol brilhante a reviver-me o espírito inculto, minha vida tosca. Neste domínio que a mim se apresenta indecifrável, eu pressinto-te, eu escuto-te nos mais silentes recônditos. Na minha mente absorta, na minha alma errática, no meu coração vagueante... A tua imagem fixa!...
em algum beco do mundo, em alguma viela da cidade... Porque nada neste mundo pertence-me... Então, despojo-me dos andrajos do mundo, limpo-me dos medíocres da terra. Tenho subido aos montes, tenho descido ao inferno das míseras almas, mas o meu cajado foi firmado no solo dos que olham adiante e veem que há uma promessa a ser cumprida. E eu preparo o meu coração para a semente que irrompe destemida, porque a liberdade da justiça ninguém estanca, na escolha do Altíssimo ninguém esbarra. Depositei minha alma no sacrário dos que almejam a salvação, mas sou apenas um pobre peregrino neste planeta de desmandos humanos. Por isto, eu abro o meu peito à batalha, abro os meus olhos ao sol da eternidade e aguardo a chuva que regenerará os que buscam o prado do Pai nesta seara do mundo iníquo que vivemos. E sei que os meus olhos testemunharão a grande mudança e o meu coração encontrará repouso. Tenho batalhado nas arenas dos torpes e o meu aprendizado tem sido pela espada que sangra e que também cicatriza. Mas, eu espero no Senhor, Deus de toda honra e glória imortais, pois que o seu fogo eterno livra, cura e liberta, amém.
Eu calo-me, mas não há silêncio em uma alma conturbada, ela move-se, conduz-me ao amargor, ao fervor, ao furor... agita me. Detenho-me em minhas mãos aflitas; há silêncios que me inquietam o espírito, suscitam minhas recordações, dinamizam meus princípios há muito coibidos. Meu coração silencia, contudo, permanece o mesmo romântico confesso; as palavras na ponta dos dedos, meus anseios na ponta dos lábios e o fel na ponta da língua. Assim repouso em tuas mãos meus ósculos já cansados, mas, contagiados de desejo; assim, sinto-te assim, tenho-te no próprio refrear do meu apego. Esta distância, ponte quebrada afetiva, obriga me a alçar voos maiores, pois que minha alma alada leva-me ligeiramente a ti. Neste lapso que nos separa, neste recôndito que tu te escondes, já muito sorri, chorei também... não tenho recato em dizer... pois vim à vida para viver! Por isso desgarrado amigo, a canção que a minha alma canta, ainda fala de amor e de esperança, porque foi assim que até hoje vivi. Há silêncios que estancam pensamentos e desencadeiam mágoas, que reprimem qualquer coração entusiasta. Há silêncios que parecem o fechar de portas, que são convites ao esquecimento. Não há silêncio entre minha tristeza, o papel e a caneta, há sim, o protesto insolente nas minhas letras, nas minhas palavras. Este é o meu grito... o que fazer?! Não sou perfeita! Os meus ais são como uma espada afiada que transpassa o teu coração frio, calculista e descrente, só assim te sangro sutilmente... Entre a doçura do que sinto e a amargura do que escrevo, existe um paradoxo abismal: dois lábios que não se encontram, duas mentes que não se entendem, duas cabeças que não se compreendem, dois corações que não se reconhecem, entretanto, duas almas que não se separam.
Não ouço mais as vozes do meu coração, calado e cansado segue devagar, num novo ritmo que faça brotar novas emoções. Não ouço mais as canções do meu coração, batido e abatido segue sem fazer alarde, junto aos novos sons do mundo. Tento extrair poesia em meio a todo o seu massacre... na verdade, não sinto exasperar-me a dor, não sinto desesperar-me a ausência. Em meio ao caos, aos vendavais da saudade, minhas asas alçam voos maiores, enquanto o meu coração se satisfaz com as emoções menores. Sigo os meus rumos, anversos aos que já teci, talvez, horizontes abertos para a vida que não vivi. Portanto, as feridas abertas instigam-me à luta, inspiram-me as letras. Intrépida, ateio fogo nos monumentos de cera que criei, vou lavando as aquarelas que pintei das pessoas frias e fingidas; melhor viver com a nua e crua realidade dos seres... Tenho visto muitas coisas, mas escolho enxergar as que me são preciosas aos olhos e ao espírito. Ainda somos os mesmos animais de outrora, sucumbindo ante os nossos mesquinhos caprichos, ao nosso cruel egocentrismo. Entretanto, sigo adiante, na esperança de reconhecer que coisa inútil me dói...!
Em meu planeta enigmático surges como luminoso cometa. Nenhuma previsão humanóide poderia ser tão enfática e perfeita. A minha sinuosa órbita fez-me colidir com espaciais coincidências. Viagem dentro de nós emblemática e perfeita!... Como posso em visionário sortilégio deter-me nesta aventura admirável e fantástica?! Eu adentro o teu universo paralelo, sem medos, sem bússolas, mapas ou rotas. Em espaçonave singular desbravo o teu estelar alumbramento, conheço extragaláxia. Mistérios abissais permeiam esta empreitada cibernética. Sigo a tua luz interestelar, miríade cintilante que me guia à tua Via Láctea.
Nem todo poeta sabe a poesia, nem toda poesia sabe o poeta... Infeliz é o que não se traduz e não alcança a minúcia da Vida, a preciosidade do Mundo. Conheci pseudo poetas, conheci pseudo-humanos... Impressionante a riqueza da natureza e a pobreza da alma Humana, como ambos habitam este mundo comodamente. A comunicação decerto está além das letras, o homem não se comunica em alma, não se faz ler em espírito. O poeta sabe ler as entrelinhas, sabe extrair a essência desta lacuna chamada sentimento. O poeta nunca será humano de fato, é preciso que ele esteja transitando entre os mundos paralelos, não podendo pisar com ambos os pés a crosta terrestre e nem habitar de vez o plano astral. O verdadeiro poeta sente dor sim, a dor do mundo, num parto diário de si mesmo. Cansei deste mundo caduco dos pseudo filósofos, cansei desta vida futura que não vem, que não veio, que não virá, “estou presa a vida” em que a poesia consome-me, mas há muito transcendi a morte pela palavra que liberta, pela rima que crucifica, pelo verso que degola. Ser poeta é ser visionário, é ser descobridor de si mesmo.
tempo distante, para o passado morto nas ferragens dos homens de aço, lá onde minhas mãos não mais tocarão... Mas, as sementes florescem onde as semeamos, porque as raízes fortes não sofrem com as intempéries, mas resistem custe o que custar. Quando voltares, ainda haverá as flores, as quais não tivemos a chance de vislumbrar. Quando voltares, ainda cairão as chuvas que na pertinácia ficaram retidas... Quando voltares, ainda haverá o sol a impelir-me para a interior iluminação. O gérmen do futuro amor jamais perecerá, porque o relicário maior dos homens ficará para a eternidade, e nem as mãos dos seres que tecem a discórdia e que propagam o egoísmo destruirão. Este decurso extasiou-me o corpo, cultivou-me o espírito na dor e no sofrimento, fez-me melhor. Ah! Um dia eu fiz canções que minhas mãos não poderiam compor, que o meu coração não poderia cantar. Com a alma dos fortes, com o sentimento dos simples, renascerei das cinzas, como fênix fabulosa em sua ardente transformação!...
O sol lá fora vai alto a esquentar a marcha dos homens, a provocar seus corações frios... A natureza vibrante da vida tem que nos habitar, nada de fora nos preparará para nossa própria revolução, para a transformação que nos impulsionará adiante. Tolos são aqueles que esperam a grande mudança do mundo para iniciarem a sua própria. Há pelos caminhos os estropiados de sentimentos, há os cegos que só se enxergam, e sós estão... Há os filósofos dos “conjecturismos” e os que edificam sobre as areias seus alicerces egoísticos. O sol haverá de nascer nos recônditos de nossos âmagos, há de ser luz guiando-nos nesta empreitada da vida, há de ser mestre a tirar-nos da ignorância. Aos frouxos, covardes e omissos, o desprezo!...
As flores perfumadas do meu jardim estavam estáticas no processo estagnado dos meus ácidos sentimentos, verdade é que o mundo não para, também as flores não... e elas floresceram apesar dos espinhos, apesar dos estacionados homens, contudo, não há pesares, pois que os pesados fardos ficaram nas estações já passadas... A força do sol paira mais adiante, e eu espero, mas não me contamino com a dureza dos seres, com a fraqueza das almas, com a fleuma dos covardes. Ah! Quisera alguns tivessem a força que me move, o destemor que me conclama a seguir, que faz nascer este ânimo visceral que ninguém estorva. Quisera eu mover-me como as flores... que em seus silêncios amam as palavras e despertam as almas.
Sem empunhar armas, bandeiras ou militar em partidos eu sigo a minha trajetória pacífica, mas não antropofágico-cristã a ponto de deixar-me devorar pelos leões da ignorância e passividade nas arenas da política brasileira. Porque não acredito na transformação por estatutos, eu tenho fé na revolução interior que virá pouco a pouco do âmago de cada um de nós que assiste a este espetáculo dantesco. Não creio em sindicatos e ong’s como estruturadores de caracteres, ponho fé na vontade indômita de mudar este estado de coisas através da ética, pela comunhão do espírito com o mundo e o seu criador, pelo compromisso de deixarmos algo melhor para a posteridade da raça humana. Num país em que alguns subnutridos do proletariado sobressaem-se e angariam medalhas e recebem telegramas paradoxais do nosso chefe maior com congratulações, quando o governo só investe naquilo que dá voto como retorno, eu ainda confio que o dogma maior a seguir é o “persistir, é o lutar, tenazmente pela mudança em cada pequeno gesto de respeito e preocupação com o próximo”. Difícil e indigesto e ouvir e ver pessoas de ação nas comunidades discursarem sobre suas verdades e percepções individuais, insanamente ideológicas e irreais tentando dirigir e direcionar os que supostamente não têm direção, quando eles mesmos dirigem-se para lugar algum neste antro de urubus que atacam, corroem e carcomem nossas esperanças de um país melhor para se viver. O que me deixa atônita é que o povo cansado e indignado com a política vá descansar na praia cego, surdo, mudo e alheio para os noticiários de corrupção e impunidades. Assim a população dorme em seu berço esplêndido com balas a sobrevoar suas cabeças, pouco se importando com os lobos que nos devorarão dia a dia através de nosso sistema de saúde precário, de nossas escolas falidas, com futuro de nossos filhos e netos já comprometidos por décadas. Neste mundo nada mais me assusta, só me indigna, quando todos nós voltamos nossos olhos para nossos próprios umbigos sem perceber as necessidades alheias, a necessidade real de mudarmos de postura, de atitude diante dos políticos que nos representam. Nesta terra de loucos e bêbados pelo poder, nós somos equilibristas na corda bamba da política hipócrita, elitista, alicerçada em nepotismos, ameaças veladas, cpi’s e mensalões que são um espetáculo circense da mais baixa qualidade. Estamos prisioneiros no labirinto das instituições estilizadas e travestidas de “ação social” que só visam lucros e projeção político partidária que transformam com suas caras-de-pau os nossos sonhos em cera e que na verdade deveriam ter como objetivo principal e diretriz o esforço mútuo de grupos para alterar este estado de coisas. Companheiros, fazendo aqui analogia quixotesca ao chavão de nosso presidente, aquele que nunca vê, nunca toma partido, que não assume, que não se mexe, que não se manifesta e que não pára no país para ver o que realmente vivemos. Neste chão em que se plantando tudo dá, não nascem pessoas honestas, comprometidas com o que prometem, somente fanfarrões?! O governo quer fazer cortesia com o chapéu alheio, assim diz um amigo referindo-se aos impostos pesados que recaem sobre nós. Possuímos sim uma tropa de elite, manipulando bodes expiatórios e exterminando qualquer tentativa de progresso legislativo. Lobos maus escondidos atrás das cortinas dos teatros de Brasília, na espreita para devorar a dignidade de nossos idosos, seja nas filas dos bancos, nas roletas dos ônibus, nas emergências dos hospitais, lobos disfarçados de benfeitores das famílias, com suas bolsas, tíquetes e restaurantes que nos enchem de miséria humana, doados como cala boca a uma gente faminta não só de pão, mas de educação e dignidade. Aos sem partidos, assim exorta um amigo jornalista, eu vos convoco à mudança pela indignação pacífica, mas ativa, sem partidos ou bandeiras, porque “o meu partido hoje é um coração partido”, pois, “os meus inimigos estão no poder...”
Fugidios traços na escuridão escoam por entre os dedos do tempo, por meio das sarjetas da distância, em meio ao mar das humanas tolices... Se conseguisses olhar-me como um dia eu te olhei, as vertentes do destino teriam convergido para o centro das almas elevadas, para o cerne do amor sem fronteiras... Mas para alguns é preciso que haja os dedos que apontam a direção para seus pés, como cegos no castelo da vida, como mortos no cemitério dos homens. Eu escolhi a luz que jorra sobre a cabeça dos que acreditam na existência transformada, que diz não aos indiferentes teleguiados, que dá um basta aos estáticos de espírito. O meu caminho é um rio longo, eu sei, doravante só desaguo no mar das essências generosas...
Deslizo minhas mãos sobre as águas do passado, nelas eu sei, já não mais posso abrir caminhos. Eu vi as ondas do destino traçarem seu percurso, propagando pelos ventos partículas da partida, diluindo pelo tempo o pó da história que jamais será reescrita. A página amarelada de minha poesia não tem lábios ou voz, seu rosto é uma penumbra semimorta, no entanto, as reminiscências evocam-me a seguir em frente, obriga-me a prosseguir como lei marcial resoluta as minhas escolhas. Eu sigo sim minha própria jornada, pois há ainda os que sentem a vida vociferar-lhes nas veias, cortar-lhes o espírito culto como espada afiada, outros há que há muito venderam suas almas baratas...
Enquanto colocava minhas flores na janela, lembrei-me de que um dia disseram-me algo assim: “que as pessoas que passam por nós não vão sós, deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” Nessa melancólica recordação reavivo tantos pedaços, muitos laços que ainda não desatei, tantos lapsos do que vivi. Amargas lembranças?! Não, ainda não sei, ainda não me desfiz das coisas com as quais me encantei. Amarguei despedidas, vontades tolhidas, misturei o fel e o mel, gosto peculiar das coisas que eu não provei. Vociferei meus versos audazes em papeis rosas de amor. Silenciei versos fugazes em rimas doídas. Palavras... palavras... todas, tolas, dardos tantos de dor. E assim me refugiei em Bandeira, evadi-me em Clarice, mas, sou alma, sou corpo e sou pele, somente na sonhadora Meireles. O que serão meus versos... verdades?! Tolices?! O meu suposto perfil minha alma desmente, sou profusa no todo que escrevo... sou autêntica naquilo que quero. Meu sonho itinerante, romântico, é réu confesso. Vou voando em firmamentos múltiplos, lenços muitos, nenhum documento, valsas lindas de despedidas dos portos que jamais me retirei... Se sofri? Não, ainda não sei...! Ainda acredito na lenda do final do arco-íris, no mito da caixa de Pandora, no nascer de novas auroras... Cinderelas, príncipes e reis... Fui mulher, menina, perdida; fui melhor um dia, talvez... Aguardo o final desta guerra, pois ninguém sabe dos embates que já travei, das batalhas as quais sobrevivi, das lutas que perdi, das lutas que ganhei; e que ninguém duvide, dos inimigos que não matei. De tudo nesta vida, do amargo ao doce eu provei; vou singrando os mares da alma, emergindo dos pantanais; meus males, amigo, ainda infindos, como os versos que rimei. O pranto deu gosto aos meus dias e o sal desta terra eu provei... minhas mágoas irrigaram-me o espírito, deram-me versos que jamais tecerei... Nos espinhos eu vislumbrei as flores, tantas flores... Flores tantas, de cores que jamais me deparei... Dou-te as flores da esperança, colhidas por mãos de criança, nos campos por onde te esperei...
O silêncio das palavras permanece nos lábios, como um grito selado pela ausência... Não há retorno para os caminhos ultrapassados, nem saída para os becos onde vivem os encolhidos de alma. É preciso expandir o coração para o universo incomensurável do divino e não apenas abrir os olhos para o mundo dos homens restritos. O meu voo dá-me mais que dois olhos aguçados, há um arco-íris que brota do meu peito que ainda acredita num amanhã de flores perfumadas. Eu vi no espelho do mundo horrendas imagens, e eu olhei para mim mesma com o ímpeto da transformação que liberta. Toda mudança é lento e doloroso processo, porém, não mais do que para aqueles que a assiste. Sou reles mortal neste absurdo mundo, mas, para os que não edificaram em minha vida, eu vou rompendo os laços, eu vou deixando ao léu, eu esqueço à beira do caminho...
Busco em tua imagem distante a inspiração nestes dias de mim tão ausente. A tarde é morna e nebulosa; a tarde é longa e exasperante... Intrigante é aspirar teus ares, voar em tuas asas de aedo. Em meu imenso azul és solitário pássaro a planar sob as nuvens de minha alma itinerante. Calada, permaneço, quando minha verve é distintamente loquaz, entusiasta, versada. Não sei sobre tudo, mas, ora sei que não me bastam as palavras. Quero permitir-me em tuas mãos, revigorar-me em teus lábios ardentes, aquecer-te com minha pele calorosa, tocar-te agudamente o espírito persistente, onisciente. Há urgência em meu corpo... O meu instinto ariano grita combativo, contundente. Conto amargamente o tempo lento, irritante. Sim, eu quero... deitar-me calma em teu leito e repartir singularmente o que sobeja em meu sequioso peito.
Tarjei meu amor no tempo, no espaço, como nos versos que deveras escrevo. Em minhas mãos, em nossas vidas, a efígie do afeto, determinismo, destino. Unidos como peças de encaixe, alcançamos os mais precioso desejos. Em nossas mãos, em nossas almas, a mais delicada obra, o mais refinado timbre, filigrana feita de amor e paz.
Quando eu era ainda pequenina, quando as meninas dos meus olhos sonhadoras, fitavam o céu e o mar como promessa, eu sentia a vida tão vertente no cheiro das flores das paineiras que acarpetavam o meu quintal todo de rosa, colorindo a minha alma fantasiosa nas manhãs de aragem fresca de outono. Hoje, ainda fito da janela a mesma paisagem que outrora desvendei... A serra distante, neblinada descaindo em ondas verdes sobre as casas, cromatizando ainda de certa forma a minha alma hoje desfigurada. Criança... na franqueza clara do teu riso eu louvo a vida, porque vida eu vejo em ti, nos teus olhos eu vejo a esperança aclamar a liberdade do ser, do viver para germinar, do sonhar com um porvir colorido, muito mais multicor do que os desenhos que pintei... E ainda constato, como ontem que é preciso caminhar de encontro à velha infância, do que fomos e somos, que é preciso acreditar no cheiro das flores, na inocência dos homens, na sorte das crianças, e na coragem que nos incentiva a caminhar, apesar de tudo, de encontro ao futuro!
Senhor, aparta-nos da amargura, limpa os nossos olhos, esgota-nos o fel. Traz-nos bálsamo com a tua bondosa santidade, pois temos andado à beira do caminho e não mais avistamos os teus verdes pastos. Sinaliza-nos com o teu cajado para que reconheçamos a renovadora esperança. Pai, toca nossos corações para que a nossa sensibilidade não esmoreça ante os ímpios. Mostra-nos o caminho das tuas águas tranqüilas, espraia a tua divina luz sobre as sombras em que se fecharam nossos corações insurretos. Esmaga com as tuas mãos poderosas a dureza deste mundo aflito e afeito as coisas vãs. Derrama a esperança sobre os perdidos e mansuetude sobre os amargos desta terra. Dá-nos de beber o teu leite farto de benesses; Oh Eterno, tem misericórdia de nós! Amansa oh Excelso, os nossos corações selvagens com tua real e soberana gentileza! Oh, Mestre, oferta-nos as tuas consolações, porque caminhamos com sede de justiça. Mostra-nos a tua libertadora verdade com o teu manso olhar, com o teu maior amor que nos é convencimento e entusiasmo. Estanca nossos prantos que há milênios abrem sulcos em tuas terras infindas e feridas fétidas em nossos peitos duros. Temos suplicado pela confraternização e pela concórdia entre os homens, contudo somos rebeldes para com as tuas eternas palavras, avessos ás tuas verdades perpétuas. Sacode-nos oh Pai, desperta-nos, oh Pai, para a fé no futuro, acorda-nos para o trabalho para o qual Tu nos chama hoje para o profícuo enriquecimento de Tua seara de paz!...
Talvez eu viva de arrependimentos, não de remorsos, pois na seara dos bons a dor é polimento, é remédio, é cura. Mas, a vida não se integra nos fracos, apesar do jugo leve, a coragem para viver não é para qualquer um, mas ainda há que se guardar a ternura. Meus olhos veem, meus ouvidos ouvem e a trava hoje não está mais na visão de quem olha, está no peito de quem não sente e não vê com os olhos do espírito... A pedra é dura... e eu sei que as águas gastam as pedras, embora elas mudem de lugar, o limo ainda as encrosta de soberba, de orgulho. Pior do que travar a luta e omitir-se aos fatos, pior do que tomar partido é ser partidarista. Mas, o coração dos limpos é campo de batalha e de vitórias, não há como soçobrar-lhe. Ainda que eu falasse a língua dos homens ainda assim eu seria um estrangeiro. Este mundo em que eu vivo está longe do mundo que almejo, e muito aquém do mundo que eu sonho!...
Cerro meus olhos para o passado, lembranças são facas que ferem... Há sonhos dilacerados pela distância, há os corações inertes e vazios... Há cílios molhados. Em fio fino equilibra-se o amor dos superficiais, e nem sempre o maior sentimento é o bastante para agüentar as agruras da ingratidão. A sombra da desilusão vem de mansinho, não faz alarde, e assim corrompe todos os sentidos, deforma a esperança, faz florescer o egoísmo; transfigura rosas em espinhos, converte dádiva em maldição. As águas sob os moinhos envelhecem, estagnadas pelo falso amor, pelas dissimulações, pelo desinteresse, pela face mascarada dos insensíveis. Pois que caiam as máscaras!... Arrebentar os laços só dói para aquele que os edificou. Um dia as águas gastarão as pedras, um dia os homens entenderão além do tempo presente. Um dia os homens tornar-se-ão humanos... Ou passarão... Mas, eu, passarinho!
Quando deparo com o teu singelo sorriso, o mundo fica sossegado e mais bonito. Com tua bela face a povoar meus instantes eu retomo as sendas do sol... e descanso na sombra amena das tuas mainas palavras. Riacho doce a banhar-me em brandas águas, a purificar minh’alma desvairada... Ao teu lado, pacífico transforma-se o meu caminho de pedras... as minhas lágrimas revoltas. E eu persigo a pérola invulgar nas tuas profundezas como um escafandrista extasiado ao vislumbrar a tuas realeza... e eu bordejo em teu desmedido mar de amor... em teu continente que eu pensara perdido. Participar deste mundo onírico é benesse, sortilégio, donadio, e eu tenho tudo isto contigo!... Meu amado, meu amante, minha lousa rara, “Que o nosso amor pra sempre viva, minha dádiva.”
Tentei achar palavras, construí-las em meu mundo destrutivo, desvalido. As implosões que me consomem a alma, tornam-me explosiva, impulsiva, temperamental... Neste mundo onde o edificar seria o natural. Mas, a intolerância queda os seres, inverte seus valores, prega a violência, abjura a decência, origina horrores. Observo o mundo em sua correria, aí está a origem de toda a minha rebeldia. Movo em meus versos a terra, o céu que habita os seres, o mundo que mora em nós, o meu próprio coração. Queria... em palavras construtivas, compor uma canção, falar de alegrias, acalmar os prantos do submundo, adoçar tantas bocas já amargadas, libertar tantos sentimentos tolhidos... Abraço o tempo, rolo pelo espaço, quero ter noção de quantos eu abraço. Globos longínquos nesta imensidão do universo latejam em meu pulso, esclarecem o meu espírito tão obscuro. Busco a aurora dos novos tempos, que trará a luz da libertação interior, da doação sem limites, do amor. Não tenho medo nem receios em me expor. Toco os meus centros vitais, busco o equilíbrio que jamais tive... jamais. Deixei um dia que roubassem a minha paz, mas, na minha mente, ainda a meta, firme e forte, não me deixa, não se desfaz. Podem pensar que fui vencida, sub-rogada, subjugada... mas, ainda está liberto o meu espírito, que vibra, está vivo, latente, vital... que o sinto tão rijo, tão forte que transpasso os limites siderais. Não mais cairei em negros abismos, pois que hoje a minha alma se ergue e prossegue, sublime, celestial... Nos caminhos da vida, nos rumos dos mares, não mais verei Leviatã, porque a força que me move agora, é corajosa,é sã. Deixarei o passado nas cinzas, onde a brisa o levará ao sol, onde o orvalho o beberá com a lua. Não sinto mais amargor em minha língua, tampouco, azedume em meu peito, sou e estou refeita, pronta para a luta. Não edificarei mais sonhos vãos... Que venham as flechas, que me sangrem os braços, que me calem a voz, que me ofertem a dor... pois, sou aço, sou fogo, sou laço forte, vou rumo ao sul buscando o amor.
À beira de trilhos sem fim, anjos caídos seguem para lugar algum... Por que olhamos e não os vemos?! Apressados passamos ante a desesperança que também nos habita. Homens teus, oh Pai que seguem sem rumo, abandonados pela pseudo ordem urbana social. Jovens, quase crianças vivendo uma guerra onde não sabem o que combatem, não reconhecem sequer os seus iguais. A fumaça a turvar seus olhos e suas sortes, não há luz no fim da estrada... quiçá pensaremos em futuro. O pequeno fogo que consome tudo, tragando toda felicidade e também o direito de florescerem. Onde estarão os homens sãos que ora cegos não divisam as estações perdidas, os becos onde se enterram as almas vivas?! Hoje os semimortos gritam mais que os insanos, vejo zumbis como mecenas da humana miséria. Homens tantos ao léu, não há céu para os viciados da tristeza que sobressaltados permanecem nos lúgubres recantos da cidade alerta. Haverá céu para os investidores das desgraças, para os investidos de poder, para os necessitados de justiça? Ah! Meninos, jamais saberão maturidade... Ah! Meninas, jamais entenderão maternidade... Existências suspensas como cavaletes eleitorais representam a moderna crucificação dos mártires pois, parede negra é a política brasileira, a carta magna dos boçais. Lealdade, segurança... Tateamos, nada achamos, quando levantaremos os mortos que ocultamos?! Sigamos como à dois mil anos, cegos, surdos, absortos o calvário da omissão que nos assola. Vielas, viadutos, barracos, esta é a tela morta que pintamos. Na animalidade em que vivemos, onde houver
túnel fechado, haverá mães chorando, corrupção
ativa e vidas expostas, suprimidas. Mas, ainda
velozes passamos, e lá bem ao fundo da poluição
visual que nos tornamos, eu leio: “Amor, palavra que liberta!...”
No silêncio as teclas gritam... Não mais que o meu coração. Fechar na tela do mundo o “xis” da questão, não impede que a marcha virtual dos homens prossiga. Morrer?... Dormir?... Despertar!... Dilacero botões descoloridos, afasto-me das janelas, pois que a banda já passou ao largo. Nas praças as flores renascem seguindo sempre a canção. O mundo pulsa, a madrugada ferve e o homem fenece em enredos irreais. À noite nos labirintos da cidade a carne sangra e os indiferentes sempre estarão no lugar mais quente do inferno. O universo paralelo vai impondo aos seres a cinética superficial das humanas relações. Ainda o meu espírito repousa na rede da Via Láctea, pois é lá que se revigora dos frios passantes da Terra. Em minha esfera poética, onírica não há lugar para os inertes, para os insensíveis. Um cerne que não reage ao toque da vida, ao chamamento legítimo da criação não inspira, não palpita, não lapida e não percebe que somente as preciosas almas movem corajosamente o mundo real.
Com a alma em prantos eu vou revendo a História...
Esqueléticos homens diante de espíritos incultos
curvam suas frontes, arquejam seus ombros
avançam para os campos sem volta.
Quem mais lavará as mãos?!
Na extensão da arena seguem a implorar pais,
amigos, mães, irmãos... até quando?!
Fumaça, cheiros, gemidos, a verdadeira bomba “H”
explodiu mais que terras, quarteis, estradas, ela
explodiu corações.
A humanidade segue incontinente como símbolo
da destruição e o seu tempo parou nas valas das
transformações inglórias, nas minas que não lhe
erguem tesouros, nas trincheiras que lhes rebaixaram
soldados, nas balas que lhes silenciaram os rebentos.
Quando o homem fará sua própria ressurreição,
emergirá dos escombros de sua podre ambição!?
Imagens passam velozes no vórtice do tempo,
homem caos, cães ferozes, algozes das etnias,
ases suicidas indomáveis, camicazes da mutilação.
Adeptos da falsa moeda, judas e vendilhões nos
templos ensanguentados do solo das religiões.
Mortíferos vagões instituindo com covardia a
nova ordem mundial das nações.
Cartas que nunca chegaram, outras tantas que
jamais foram lidas; castas, classes, segregação
levantadas como estandartes, insígnias de poder
e maldição.
Diferentes homens de indiferentes olhares, oh
Pai, o que será libertação?!
Corpos sobrepostos... bandeiras, rações, partidos,
morada de lobos guardiões, cova eterna dos lamentos. Às águas passam sob moinhos, ainda há a chuva ácida
que não me lava o rosto, mas que me deforma a alma.
Toda noite abro o livro... que História contarei para
os meus filhos?!...
Gases mortais, aviões, tanques, fogo de calcinações...
Dante, Dante, o teu inferno há muito está sob os céus!...
agora, mas, a saudade, a sede da demora, fazem-me escrever sobre o mesmo tema, a mesma história... Teço em vermelho meus versos, pois são ardentes, abrasivos. Escrevo em negro em meu livro, pois estanque está a alegria, ferido está meu coração. Perigo! É o aviso que não leio, posto que prefiro escrever com os olhos da alma, com as mãos do espírito. Eis a minha sentença... Flagelo meus sentimentos e sei que tolhê-los é preciso. Bastou-me te ouvir, não me basta te conhecer, porque quero amigo, do fundo do meu peito, sentir-te.
amor que damos, e que mesmo assim não desaprendemos o amar. Só se comunica no amor aqueles que aprenderam o que são os laços dos afetos, porque quando o amor não se infunde e não se sente na alma como bálsamo regenerador, não há como se abrir ao aprendizado do ser, do estar para o outro. A caminhada solo do amor já é maravilhosa, belíssima canção transforma-se quando em duo podemos caminhar. Galgamos as altas esferas do sentimento maior quando sabemos do sacrifício e do despojamento que ele requer e não o tememos. Estás preparado, armado, consagrado para a batalha em que a alma e o corpo deverão ser égide e broquel? O coração de quem ama é uma águia, porque plana altaneiro, porque mais longe vê, porque mais a vida plena em amor lhe renova. Recolho-me como fênix no mais alto cume, entre poucas flores, entre muitas pedras, pois, descobri em meus longos voos que um amor qualquer nunca me fez melhor...