PENSAMENTO DO DIA

Prefiro andar pelos vales sombrios junto aos lobos, do que em campos floridos ao lado de falsos cordeiros. (Felipe Melliary)

REFLEXÃO

"Não é preciso ter muita coisa na vida, tendo noção já é meio caminho andado, pois gente sem noção dá muito trabalho!"

30 de dezembro de 2009

SENTIR-SE AMADO (Martha Medeiros)


O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.

Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.

Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?

Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho."

Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d’água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando?" Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. "Vem aqui, tira esse sapato."

Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido.

Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.

Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.

AMOR MADURO (Artur da Távola)

O amor maduro não é menor em intensidade.
Ele é apenas quase silencioso.
Não é menor em extensão.
É mais definido, colorido e poetizado.
Não carece de demonstrações
presenteia com a verdade do sentimento.
Não precisa de presenças exigidas:
amplia-se com as ausências significantes.

O amor maduro somente aceita
viver os problemas da felicidade.
Problemas da felicidade
são formas trabalhosas
de construir o bem e o prazer.
Problemas da infelicidade
não interessam ao amor maduro

O amor maduro cresce na verdade
e se esconde a cada auto-ilusão.
Basta-se com o todo do pouco.
Não precisa nem quer nada do muito.
Está relacionado com a vida
e a sua incompletude,
por isso é pleno em cada ninharia
por ele transformada em paraíso.
É feito de compreensão, música e mistério.
É a forma sublime de ser adulto
e a forma adulta de ser sublime e criança.
O amor maduro não disputa,
não cobra, pouco pergunta, menos quer saber.
Teme, sim. Porém, não faz do temor, argumento.
Basta-se com a própria existência.
Alimenta-se do instante presente valorizado
e importante porque redentor
de todos os equívocos do passado.
O amor maduro é a regeneração de cada erro.
Ele é filho da capacidade de crer e continuar,
é o sentimento que se manteve mais forte
depois de todas as ameaças,
guerras ou inundações existenciais
com epidemias de ciúme.

O amor maduro é a valorização do melhor
do outro e a relação com a parte salva de cada pessoa.
Ele vive do que não morreu
mesmo tendo ficado para depois.
Vive do que fermentou criando
dimensões novas para sentimentos antigos,
jardins abandonados cheios de sementes.
Ele não pede, tem.Não reivindica, consegue.
Não persegue, recebe.
Não exige, dá.
Não pergunta, adivinha.
Existe, para fazer feliz.
Só teme o que cansa, machuca ou desgasta.

29 de dezembro de 2009

SER ÍNTEGRO (Sofia Passos)

O que para uma localidade pode ser considerado moralmente aceitável, para outra comunidade pode ser verdadeiramente obsceno.
Além disso a vida é de uma extraordinária complexidade e a escala de cinzas na qual se desdobram os aspectos das nossas questões e posturas, é tudo menos linear e quem é muito linear nessas atribuições de certo e errado, facilmente escorrega para a inflexibilidade e a intolerância.
Também é verdade que tendemos a ser o que esperam de nós. É por isso que é tão importante escolher bem as pessoas que nos cercam porque é muito difícil não sermos o que é esperado de nós. “O que é esperado de nós” é-nos transmitido subtilmente e provavelmente sem consciência desse fato, mas é um forte fator de moldagem da nossa atitude.
Quando alguém nos observa e nos conhece, não vê apenas uma alma no momento presente, na sua luz e no seu potencial de brilho e aprendizagem.
Quando alguém nos conhece começa a colar os nossos maneirismos com outros que conhece, começa a rotular-nos em função da sua experiência pessoal de outros do “nosso tipo” que já conheceu; começa a esperar de nos que tenhamos determinadas atitudes e é muito difícil resistir a esse magnetismo, sobretudo quando ele é comum a muitos dos que nos rodeiam.
Então ser íntegro pode tornar-se muito complicado, porque há muitas formas de sermos como os outros esperam que sejamos. É muito difícil ser íntegro dentro das limitações que esperam que tenhamos e do grau de exigência com que também podem observar-nos.
É por isso que ser íntegro nunca pode ser uma questão pautada pelo exterior. Tornava-se demasiado complexo para ser praticável.
Ser íntegro é muito mais simples do que tudo isso.
Ser íntegro é ser inteiro, coeso e coerente.
Ser íntegro é algo que resulta de ouvirmos e conhecermos tão bem as vozes que nos habitam, que podemos encontrar formas criativas e inteligentes de não viver em conflito interior tentando satisfazer e corresponder ao exterior.
Para ser íntegro será o bastante conseguir acordos entre as nossas várias vozes interiores, os nossos vários aspectos de personalidade, a nossa cabeça, o nosso coração, o nosso corpo e a nossa alma.
Em cada decisão que conseguimos tomar de forma inteira, que tudo em nós sente essa decisão, que tudo em nós vive essa mesma verdade; estamos a ser íntegros.
Quem vê de fora sente confiança na pessoa íntegra porque percebe nela uma lógica perene e profunda, que não fica pela superficialidade e que não tem a fugacidade de quem vive de pressões externas.
Um ser humano íntegro, precisa de se conhecer bem, precisa de saber dialogar consigo mesmo com inteligência, serenidade e sensibilidade. Precisa de saber negociar consigo mesmo, as melhores soluções para conseguir dar inteiro cada passo na vida, cada escolha, cada palavra.
Quando conseguimos fazer essa aliança sólida e estável entre o que pensamos, o que sentimos, aquilo em que acreditamos, as nossas necessidades, as nossas potencialidades, as nossas limitações, os nossos sonhos e o nosso espírito; tornamo-nos pessoas muito grandes. É a maturidade da alma. É a integridade de um ser humano em tudo o que ele é.
Ser íntegro é ser como a natureza é, como um bebê, como todas as formas de existência e manifestação que podemos observar à nossa volta. Podemos pressentir uma espécie de inteligência maior nessa integridade que a natureza nos oferece sem pestanejar, desde sempre e para sempre na melhor resposta possível. Essa inteireza.
É a diferença entre a integridade moral e a verdadeira integridade.
Na primeira habitam regras de conduta codificada, na segunda é o espírito que habita.
(Sofia Passos é terapeuta)

28 de dezembro de 2009

LOVE IS NOT A FIGHT (Warren Barfield)


Love Is Not A Fight (tradução)
Compositor: Warren Barfield

AMOR NÃO É UMA BRIGA

O amor não é um lugar
para ir e vir quando você desejar
É como uma casa que você entra
E ai então promete que nunca mais vai embora

Então tranque a porta depois de entrar
E jogue a chave fora
Vamos resolver isso juntos
Deixe que nos Faça ajoelhar

O amor é uma proteção
Em uma feroz tempestade
O amor é paz
No meio de uma guerra
E se a gente tentar sair
Que Deus mande anjos para guardar a porta
Não, o amor não é uma luta
Mas vale a pena lutar por ele

Para alguns o amor é uma palavra
Que eles podem repousar
Mas quando eles deixam de se falar
Manter a palavra é difícil

O amor é proteção
Em uma feroz tempestade
O amor é paz
No meio de uma guerra
E se a gente tentar sair
Que Deus mande anjos para guardar a porta
Não, o amor não é uma luta
Mas vale a pena lutar por ele

O amor nos salvará
Se nós apenas chamarmos
Ele não nos pedirá nada
Mas exige tudo de nós

O amor é proteção
Em uma feroz tempestade
O amor é paz
No meio de uma guerra
E se a gente tentar sair
Que Deus mande anjos para guardar a porta
Não, o amor não é uma luta
Mas vale a pena lutar por ele

27 de dezembro de 2009

Não há Felicidade sem Verdadeira Vida Interior (Arthur Schopenhauer)

A vida intelectual ocupará, de preferência, o homem dotado de capacida­des espirituais, e adquire, mediante o incremento inin­terrupto da visão e do conhecimento, uma coesão, uma intensificação, uma totalidade e uma plenitude cada vez mais pronunciadas, como uma obra de arte amadurecen­do aos poucos. Em contrapartida, a vida prática dos ou­tros, orientada apenas para o bem-estar pessoal, capaz de incremento apenas em extensão, não em profundeza, contrasta em tristeza, valendo-lhes como fim em si mesmo, enquanto para o homem de capacida­des espirituais é apenas um meio.
A nossa vida prática, real, quando as paixões não a movimentam, é tediosa e sem sabor; mas quando a movi­mentam, logo se torna dolorosa. Por isso, os únicos feli­zes são aqueles aos quais coube um excesso de intelec­to que ultrapassa a medida exigida para o serviço da sua vontade. Pois, assim, eles ainda levam, ao lado da vida real, uma intelectual, que os ocupa e entretém ininter­ruptamente de maneira indolor e, no entanto, vivaz. Pa­ra tanto, o mero ócio, isto é, o intelecto não ocupado com o serviço da vontade, não é suficiente; é necessário um excedente real de força, pois apenas este capacita a uma ocupação puramente espiritual, não subordinada ao ser­viço da vontade. Pelo contrário, o ócio destituído de ocupação intelectual é, para o homem, morte e sepultura em vida (Séneca).
Ora, conforme esse excedente seja pe­queno ou grande, haverá inúmeras gradações daquela vida intelectual levada ao lado da real, desde o mero tra­balho de colecionar e descrever insectos, pássaros, mine­rais, moedas, até as mais elevadas realizações da poesia e da filosofia. Tal vida intelectual protege não só contra o tédio, mas também contra as suas consequências pernicio­sas. Ela é um escudo contra a má companhia e contra os muitos perigos, infortúnios, perdas e dissipações em que se tropeça quando se procura a própria felicidade apenas no mundo real. Para mim, por exemplo, a minha filoso­fia nunca rendeu nada, mas poupou-me de muita coisa.
O homem normal, pelo contrário, em relação aos de­leites de sua vida, restringe-se às coisas exteriores, à pos­se, à posição, à esposa e aos filhos, aos amigos, à socie­dade, etc. Sobre estes se baseia a sua felicidade de vida, que desmorona quando os perde ou por eles se vê iludi­do. Podemos expressar essa relação dizendo que o seu centro gravitacional é exterior a ele. Justamente por isso, tem sempre desejos e caprichos cambiantes. Se os seus meios lhe permitirem, ora comprará casas de campo ou cava­los, ora dará festas ou fará viagens, mas, sobretudo, os­tentará grande luxo, justamente porque procura nas coi­sas de todo o tipo uma satisfação proveniente do exterior. Como o homem debilitado que, por meio de consom­més, canjas e drogas farmacêuticas, espera obter saúde e robustez, cuja verdadeira fonte é a própria força de vida. Para não passarmos desde já ao outro extremo, coloque­mos ao seu lado uma pessoa dotada de capacidades es­pirituais não exactamente eminentes, mas que ultrapas­sem a escassa medida comum. Veremos tal pessoa prati­car como diletante uma bela arte, ou uma ciência como a botânica, a mineralogia, a física, a astronomia, a história e semelhantes, e nelas encontrar de imediato uma grande parte do seu deleite, nelas se reabastecendo quando es­tancam aquelas fontes exteriores ou quando não mais a satisfazem­.

23 de dezembro de 2009

EDIFICAR (Cacau Loureiro)

Nós muitas das vezes em finais de ano nos pegamos fazendo uma reflexão sobre o que fomos capazes de fazer pelos outros e o que os outros foram capazes de fazer por nós em 365 dias. Inevitavelmente fazemos estas reflexões. E sabemos lá no fundo de nossos corações que poderíamos ter feito mais. Eu que venho num ritmo de muitas mudanças em minha vida nestes últimos anos, confesso que passei muitas frustrações, tristezas, fiquei muitas e muitas vezes com aquele sentimento de incapacidade, de querer veementemente muitas coisas e por muitos motivos as coisas não acontecerem, principalmente quando as coisas para acontecerem não dependerem somente de nós. Enfim, sei que vivemos em sociedade e devemos nela interagir de forma positiva e abrangente, contudo, o nosso trilhar espiritual depende só de nós. Neste mundo em que a maioria prega o direito a individualidade e a privacidade nós vamos seguindo mesmo os caminhos do egoísmo que na verdade é a nossa ferida e o nosso ponto fraco.
Respeito muito as correntes idealistas que passam pelo caminho da humanidade, portanto aqui expresso também minha opinião sobre ela (a humanidade). Sou uma observadora minuciosa das pessoas e de suas falas, embora eu seja extremamente agitada e falante, nada, mas, nada mesmo passa ao meu crivo sem uma profunda análise. Já fui acusada de ser dona da verdade, pelo menos eu tenho certeza que cada um é dono da sua, eis a autêntica verdade da vida. Sou mulher de colocar o dedo em riste quando luto por algo que acho justo e nunca me arrependi de minhas lutas e, incorrigível sei que travarei ainda muitas batalhas. Penso que minha consciência está limpa, pois que bati em todas as portas, lutei todas as brigas, entrei em todas as raias e jamais o que pleiteei ou quis ficou guardado no silêncio da covardia ou na omissão da falta de responsabilidade. Penso também que o direito do outro termina onde o meu começa, e assim será “ad aeternum”.
Testemunhei a mediocridade de muito perto, a omissão na própria carne, falsas promessas ecoaram em meus ouvidos como nunca, risos, e eu rio disso porque aquilo que de fato não me matou, me fez crescer. Dizem que os iguais se atraem, mas que os diferentes em algum momento se encontram, ah, se encontram, porém passam, não permanecem, porque simplesmente não contribuem, são ocos, vazios, vivem de nadas, de futilidades e superficialidades. Fazer a vida fluir, acontecer é o que importa e nós temos a obrigação de sermos parte operante e integrante dela, da vida!...
Quero muito ouvir os discursos dos homens, mas somente depois das coisas concretizadas, na verdade, os discursos tem que ser a posteriori, quando as promessas já foram cumpridas, quando os caracteres já foram mostrados, quando as máscaras já foram tiradas, quando os valores já foram aplicados.

Edificar, sim esta é a palavra, viemos ao mundo para edificar o que temos de melhor, pois que somos criaturas com canal direto com a divindade, e rezar, orar, fazer prece só não adianta, precisamos sim, agir para nos edificarmos e em nos edificando edificarmos o outro. Nós que já passamos dos quarenta sabemos que já almejamos tantas coisas e por muitos motivos adiamos, desistimos, mudamos de rumo porque em algum momento a nossa edificação como “seres humanos” é mais importante. As pessoas gostam muito de medir a felicidade do outro e se esquecem de construí-la dentro de si mesmas e ao seu derredor. Eu não posso tomar para mim o que é do outro, tampouco dar ao outro o que eu tenho obrigação de desenvolver em mim.
Felicidade edificada é um bem que não tem preço, é viver cada dia como se fosse o primeiro, com entusiasmo de uma criança e sabedoria de um idoso. Eu tento e você tenta?!

22 de dezembro de 2009

TREVAS OU LUZ? (Cacau Loureiro)


As ovelhas passeiam desgarradas
contudo, o onipotente não desistiu
de suas criaturas.
O livre arbítrio foi corrompido pela
ganância, pelo orgulho e pelo egoísmo
da raça humana.
Os falsos profetas se espalharam
na face da terra como erva daninha
a carcomer os espíritos ignorantes.
Muitos dormem o sono dos loucos,
muitos vivem uma vida de “nadas”.
Muitos seguem os mensageiros que
em seu íntimo são lobos rapaces.
O céu grita em nome de toda gente,
ricos, pobres, sãos, doentes, órfãos,
pais, mães, filhos, a terra grita em seu
âmago pela salvação!
Os prodígios humanos nada são
diante da glória do Eterno, diante
dos incomparáveis milagres do médico
dos médicos, o bendito Reis dos Reis.
As trevas cobrem e permeiam a mente
dos homens e os seus atos.
Os sinais se apresentam...
Ouvem-se os clamores...
Nuvens negras são nossas auréolas,
a lágrima é nosso cajado, a fome é
a nossa bandeira, o medo é nossa casa,
a violência é o nosso discurso e a impunidade
é o nosso troféu diante dos pseudo-líderes,
dos falsos Salvadores.
Diante da convulsão do mundo a espada
agora está na mão do Justo Misericordioso
na cruz crucificado há dois mil anos.
O que temos feito conosco?
O que temos feito com o mundo?
O que temos feito em nome do Pai?
A escolha sempre será nossa...
E quando ELE voltar o que você será
TREVAS OU LUZ?


17 de dezembro de 2009

ASSIM SEJA... (Cacau Loureiro)


Difícil escolher o caminho quando estamos
cegos pelas paixões que nos tornam oblíquos
à verdade.
Pessoas há que nos roubam a própria identidade
e julgam-se oprimidas, vitimadas.
Mas, eu não culpo esses alardeadores de
promessas falsas, de discursos efêmeros
em nome da bondade, pois que eu os ouvi,
eu os deixei ficar...
Mas a marcha do progresso é incontinente,
e os escolhidos estão sempre amparados na
Luz da Divina Providência.
Creio piamente que tenho a fronte marcada
para o desenvolvimento espiritual, contudo,
em alguns momentos perdemos o objetivo.
O Grande Pai tem sido abundantemente
misericordioso em minha vida, porque em
cada passo ele me mostrou sempre a sua face.
Desviei meu olhar algumas vezes... e meu coração
travou batalhas vis, e o meu trilhar era de espinhos,
e o meu céu não era azul, e a minha fala
não era minha.
Reneguei de alguma forma todos aqueles que
sempre me deram e ofertaram a compreensão,
e o acolhimento, e estes atos são amor balsâmico.
Deixar a vaidade de outrem habitar em nós é
veneno digerido diariamente, e isto nos mata
e mata aqueles que estão ao nosso derredor,
compartilhar deste cálice amargo nos transfigura,
deturpa nossa real identidade.
Porém, eu tenho o gérmen do criador pulsando em
minhas veias, a visão das águias que rasgam os céus
em busca da liberdade maior, que nem dinheiro, nem
posição e nem o poder desvirtuam ou consomem.
O meu caráter é o cajado que carrego para me
defender dos inimigos, a minha franqueza para
afastar a hipocrisia dos que intentam lograr
com a justiça.
Eu não brinco com a vida e eu não temo a
morte por isto vivo mais e intensamente.
A covardia nunca habitou o meu coração,
embora algumas pessoas consigam nos destituir
de inteligência por algum tempo com suas bárbaras
atitudes dissimuladas.
Os que vivem sem bravura são repugnantes,
assim sendo os encolhidos de espírito nunca se
expandem para a verdadeira vida porque temem
o compromisso com a existência, pois que
o seu intento é passar por ela, não vivê-la.
Mortos vivos a poluírem os lugares por onde
passam omissos; pobres coitados fragilizados
pela estampa de falsa benevolência.
Não culpo ninguém pelas minhas escolhas,
posto que elas me foram escola austera.
Compreendi também que o meu crescimento
muitas das vezes foi forjado na pequenez
de outros. E só os sábios aprendem com
os erros alheios.
Sou tão insignificante neste mundo, e por isto
também dou graças a Deus, talvez se ele me
fizesse maior eu não soubesse usar os dons
que me concedeu, mas eu faço a minha parte.
Descobri já a algum tempo que mágoa sempre
nos faz estacionar na marcha do progresso,
e para elas tenho um tempo muito curto,
também elas temperam-me e preparam-me
para o melhor que há de germinar em mim.
Valores morais hoje são discutidos como plano
de política, pela qual, aliás tenho asco.
As pessoas planejam: vou ser assim para obter
isto, falarei assado para angariar àquilo.
Não vim à vida com etiqueta de valor de mercado,
muito menos dou desconto, minha alma não está
à venda, e por isto sempre paguei caro por minhas
opções...
Hoje volto a ver as coisas com nitidez e lucidez...
Há pessoas que se corrompem por qualquer quinhão
de falso afeto, de fugidios laços, de vantagens
baratas, usurpam o que não lhes pertence pelo puro
prazer de dizer que estão aproveitando a vida.
Entregam-se a relações falsas, medíocres e
superficiais para mostrarem que tem alguém
ao seu lado, mas caminham sós e egoisticamente.
Tenho certeza que viemos ao mundo para sermos
fortaleza, a fleuma não nos leva a lugar algum,
tampouco a passividade. Sei também que não
vivemos num país pacífico e sim num país passivo
e assim marcham as pessoas para a frieza diante
de todo este caos que vivemos nós hoje em dia.
Identidade plena é ser amplo sem ser hipócrita,
é fazer o suficiente que se pode sem ser mesquinho.
Dei minha cara á tapa muitas vezes, e daria e darei
quantas mais forem preciso, pois que não posso me
esconder atrás de máscaras de torpeza e futilidade.
Sou de carne e osso e já fui pregada na cruz para
a minha própria salvação.
Morri e renasci mil vezes porque as sementes
que venho plantando em meu caminho sempre
me dão novas possibilidades de recomeços...
E acreditem, sempre recomeço com mais força,
com mais vontade, com mais capricho, com
mais empenho, com mais amor e com mais perdão.
Assim seja, graças a Deus!...

16 de dezembro de 2009

COMUNICAÇÃO: A PONTE PARA O SUCESSO (Reinaldo Passadori)

...Ponte, mais do que uma estrutura de concreto que une os dois lados e permite a passagem de pedestres ou veículos, tem sentido mais apurado: representa união, aproximação, elo, ligação, junção, contato, relacionamento, laço, vínculo, convívio.

A ponte é um símbolo de passagem, de transposição de um lugar para outro, de um tempo para outro, de um estado (físico, emocional ou intelectual) para outro. Assim, podemos dizer que:

- O presente é uma ponte entre o passado e o futuro;
- O hoje é uma ponte entre o ontem e o amanhã;
- A mãe é uma ponte para a vida;
- O médico é uma ponte para a saúde e o bem estar;
- O professor é uma ponte para o conhecimento;
- O mestre é uma ponte para a sabedoria;
- O soldado é uma ponte para a liberdade;
- O advogado é uma ponte para a justiça;
- A consciência é uma ponte para o reconhecimento da vida;
- A religião é uma ponte para a espiritualidade;
- O coração é uma ponte para o amor;
- A inteligência é uma ponte para o desenvolvimento;
- Os órgãos dos sentidos são ponte para as sensações;
- O medo é uma ponte para a coragem;
- O olhar é a ponte para o relacionamento.

Mais do que atravessar pontes muitas vezes é necessário um esforço ainda maior, impulsionado pela coragem e determinação ao se perseguir um objetivo ou um sonho, que é o de destruir pontes após tê-las atravessado.

Muitos durante a empreitada desistem diante de qualquer obstáculo e voltam correndo pela mesma ponte que atravessaram.

Massaharu Tanigushi, um líder religioso, disse certa vez que ao tomarmos a decisão de realizar alguma coisa, é fundamental queimar a ponte após tê-la atravessado e que devemos seguir sempre em frente, com a firme convicção de que venceremos infalivelmente. “Ninguém poderá exteriorizar plenamente a sua força se, ao iniciar um empreendimento, deixar preparado um caminho para a fuga, para o caso de encontrar algum obstáculo”, ele disse.

É o mesmo princípio adotado por Júlio Cesar, quando desembarcou na costa britânica com o seu exército invasor, que mandou queimar todos os seus navios, navios que tinham prestado um grande trabalho transportando o seu exército através do estreito e que, no caso de derrota, seriam indispensáveis para a fuga.

É também o que diz Vladimir Maiakowski, um grande poeta russo, em um de seus mais belos poemas: “Só é verdadeiro revolucionário aquele que queima as pontes da retirada”.

A idéia que é simbolizada pela ponte é sedutora, principalmente porque nos impele a refletir sobre o nosso próprio papel de ponte.

Através do nosso trabalho, somos ponte para a nossa realização e o bem-estar da nossa família, além do crescimento da nossa empresa que, por sua vez participa de um contexto ecológico e social.

Através das nossas ações, somos ponte para a construção de um mundo melhor (ou pior), dependendo da ponte que optamos atravessar.

A nossa comunicação é a ponte preciosa e que precisa ser cuidada, pois através dela nós mostramos que existimos que pensamos quem somos, nossa competência, inteligência e nossos sentimentos.

O que proponho é que cada um procure coscientizar-se do seu papel de ponte ou do seu papel de tábua de uma ponte, através da qual, outras pessoas poderão ter uma vida melhor. Construa pontes, destrua alguma quando necessário, e lembre-se da sua comunicação, a ponte que ampliará as suas possibilidades para uma vida plena de realizações (e de prazeres) pessoais e profissionais.

Para contatar Reinaldo Passadori:
atendimento@consultores.com.br


http://www.consultores.com.br/

15 de dezembro de 2009

SOBRE A COVARDIA (Cleber Resende)

Se a humanidade continuar a evoluir do jeito que vai indo, as guerras no futuro não terão muitas mortes: bastará algum dos lados em conflito raptar uma criancinha do lado inimigo e dar um ultimato: “rendam-se ou mato esta criancinha”. E teremos nações inteiras de joelhos para salvarem a vida de uma criancinha. Não é bonito isso?

Antigamente era diferente. Conta-se que Agamenon sacrificou a própria filha, Ifigênia, para que os deuses liberassem seus navios lotados de guerreiros, na direção de Tróia. Abraão teria se disposto a sacrificar o filho único para agradar a Javeh, e se não chegou a consumar este ato horrendo, temos pelo menos o caso de Jefté que o fez (Jefté está no livro dos Juízes).

Sacrifícios na Antiguidade eram muito comuns, alguns para agradar aos deuses, como o da citada Ifigênia, outros espontâneos, de pessoas que acreditavam estar a promover um bem maior para a sua comunidade ou o seu povo, como o belo exemplo do rei Leônidas, de Esparta, e seus 300 guerreiros, e também um grande número de mártires cristãos, quase todos merecidamente canonizados.

Eu creio que nesses tempos antigos, como a morte antes dos trinta anos era o caso mais comum (estima-se a expectativa de vida na época do império romano em 28 anos), o sentimento de finitude da vida era muito mais intenso, e portanto as pessoas eram menos apegadas a ela.

Esses atos extremos tornaram-se mais raros, mas não acabaram. Tivemos recentemente, o exemplo dos kamikazes japoneses na Segunda Guerra Mundial, ou o dos guerrilheiros da Al-Kaeda no ataque aos Estados Unidos em 2001, e tome homem-bomba nos israelenses – isso é que é radicalismo. No início do novo filme da série Star Trek (2009), o pai do capitão Kirk sacrifica a própria vida para salvar a dos seus passageiros e tripulantes. Nesse caso foi considerado um belo sacrifício. Hoje um sacrifício ou martírio a nosso favor chama-se heroísmo e um contra nós chama-se fanatismo. Mas só consegue enxergar isto quem está do lado de fora da guerra.

E de um modo geral sacrifícios são considerados coisas antigas, de um tempo em que a coragem era das maiores virtudes mais apreciadas. Hoje é a covardia.
Naquele tempo o sentimento da tribo, o engajamento na defesa dos companheiros, era dos mais fortes. Epopéias primordiais como a Ilíada até hoje encantam os leitores. Esses atos heróicos ainda subsistem nos filmes, graças aos nossos primitivos instintos guerreiros, que ainda não se extinguiram. A defesa contra os inimigos era prioridade. Hoje, não sei porquê, deixou de ser, como se não tivéssemos mais inimigos.

Será necessário definir isto: inimigos são aqueles que ameaçam tirar as nossas vidas – refiro-me ao ato doloso, praticado com armas, tais como revólveres, espingardas, ou facas. Um motorista bêbado, um farmacêutico que vende remédios falsificados, ou até mesmo um comerciante de drogas, têm lá seus pontos fracos, reconheço, mas não me incomodam tanto quanto aqueles que gratuitamente nos ameaçam (e matam) com armas. Provavelmente eu seja um homem primitivo demais para a época em que vivo.

Bons tempos aqueles em que se acreditava que compensa morrer por um princípio. Qualquer sociedade está repleta de histórias de pessoas que deram a própria vida para defender seus companheiros. Tiradentes foi um desses bravos. Soldados que sobreviviam a uma bela matança recebiam todos suas medalhas por bravura. Na verdade as sociedades sempre usaram a natural agressividade humana em seu favor. Se é inevitável que morra gente, então que morram os nossos inimigos.

Os hinos nacionais de muitos países ainda falam dessa sanha guerreira. Desde a “tuba canora e belicosa” do Camões, chegamos ao nosso “de um povo heróico o brado retumbante”, e “conseguimos conquistar com o braço forte”, e tome “verás que um filho teu não foge à luta / nem teme, quem te adora, a própria morte” etc. – e tem até aquele démodé “ou deixar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil”, do nosso Hino da Independência. Os deputados poderiam propor leis substituindo essas letras por outras mais atualizadas: “fujam, rendam-se, não resistam, etc.”

Vá lá que não somos mais tão guerreiros, mas um genuíno ato de coragem não precisa ser tão heróico. Basta que se disponha a sofrer um ligeiro incômodo por alguma pequena causa. Testemunhar um crime, por exemplo, ou socorrer uma vítima de atropelamento. Nem isso mais fazemos.

Como as coisas mudaram! Parece que a bravura ficou restrita ao mundo muçulmano e no mundo ocidental, pelo contrário, a covardia tornou-se lugar comum. Entre nós o sentimento tribal, pois é impossível acabar com um instinto, ficou restrito às torcidas de futebol. Querem, é claro, proibir.

As palavras mais usadas acabam tendo seu sentido deturpado, e o povo costuma entender coisa diferente por covardia. Para que fique claro, precisamos defini-la também: covardia é a fuga da responsabilidade em situação que implique em algum prejuízo ou algum perigo. Um covarde pode ver um ato de crueldade ser praticado bem à sua frente e fingir ignorar. "Não é da minha conta", diz para si – ou para os outros, se tiver alguém por perto.

Hoje tem-se o costume – muito covarde, aliás – de fugir ao enfrentamento de um problema mudando-se o seu nome. Não gosta de negros? Chame-os de “afro-descendentes” e ninguém vai perceber o seu racismo.

Com o tempo pessoas acostumam-se à novas denominações e geralmente passam a dar-lhes um significado novo. Assim é que hoje ninguém chama mais um covarde de “covarde". Isto não é politicamente correto.

Pessoas covardes comumente se consideram “cautelosos” ou "responsáveis". "Tenho família", "tenho filhos" etc. – são desculpas comumente usadas por eles. Esses conceitos também mudaram. Na Antiguidade, quando o rei Leônidas selecionou seus 300 guerreiros para acompanhá-lo até a morte, escolheu os casados, e não os solteiros, pois estes ainda não tinham produzido descendentes. Um covarde daquele tempo provavelmente diria, para se justificar, ao contrário dos de hoje: “não tenho filhos”.

Um covarde peca por omissão, e isso já é meio caminho para o perdão. Temos até a tendência a sentir pena dos covardes, e geralmente deles se diz "coitado..." num tom carregado de piedade. Mas se eu fosse dizer qual é o pecado que provoca maior dano hoje no mundo, eu diria que é a covardia. Assim como o débil mental pode praticar grandes maldades sem ter consciência do que está fazendo, o covarde pode praticar omissões de grande prejuízo para a sociedade.

O covarde não tem a menor dificuldade em alinhar-se com as opiniões predominantes em cada época e em cada lugar. Por isso passam por civilizados, cordatos, gentis. Eles não têm coragem de contestar o que os outros dizem – pelo menos diante dos seus opositores. Pois ninguém deixa de ter a própria opinião, e assim eles são, de certo modo, traidores.

Hoje é comum dizer que uma qualidade fundamental numa empresa é a visão crítica. Verdade? Ai de quem ousar! Um chefe covarde adora subordinados covardes. Em certas empresas, essa combinação gera unanimidades apressadas, que levam às justificativas prolíficas: “era óbvio que se devia fazer assim, pois todos concordaram...”.

Pusilânimes, os covardes esperam todos darem a sua opinião para só então expressarem a própria – que será uma mescla das opiniões precedentes.
Eu creio que um grande passo para o avanço da covardia no mundo foi dado com o fim da União Soviética. Aqueles velhos marxistas não eram muito entendidos em Economia, mas coragem não lhes faltava. Quem prega revoluções não é covarde. Covardes são os que aceitam passivamente as verdades oficiais.

Não sabemos qual é o povo mais covarde do mundo, mas o brasileiro sem dúvida está muito bem classificado. Nosso povo tem um genuíno medo de autoridades, principalmente de policiais e juízes, e daí sua indecisão em testemunhar um crime, ou ligar para a polícia diante de um desastre, ou até mesmo socorrer o nosso paradigmático atropelado. Há países hoje em que, em caso de seqüestro, a Justiça manda bloquear as contas bancárias dos familiares do seqüestrado, para que o resgate não possa ser pago. Em outros, a Justiça manda desbloquear o que está bloqueado, para que o resgate possa ser pago, e assim salvar uma vida. Peço ao leitor que identifique em qual dos casos há coragem, e em qual há covardia.

Torna-se cada dia mais difícil criticar a covardia. Um defeito fica invisível quando todos o praticam. O costume cria justificativas. Os covardes sempre se dão bem ao final porque, sendo a maioria covarde, seu comportamento é "compreendido" e até defendido. Assim, é muito fácil ser covarde, como é facil ser preguiçoso. Talvez por isso todos estejam se tornando. Porque a covardia é uma espécie de preguiça moral.

Os bandidos adoram os covardes. Na verdade a sua vida seria muito difícil se eles fossem em menor número. E para sua alegria, todas as autoridades também parecem apreciar a covardia, pois vivem repetindo os chavões que proponho aqui, sejam colocados no Hino Nacional: “Não resistam”, “rendam-se” etc. Uma galinha cacarejando no fundo seria perfeito. Talvez uma cuíca consiga imitar.

Cleber Resende é autor do romance "A Nossa Cor - Um Retrato do Racismo no Brasil" e do ensaio "Massificação Cultural e Religião" - além de uma antiga introdução à Informática "O Cômputo do Computador" (Record, 1991, esgotado).

QUEREMOS, MAS SOMENTE PARA NÓS!... (Jordan augusto)


“O pensamento humano, mais sutil e veloz que a luz, sobe e se eleva mais alto que as nuvens, e no seu vôo assombroso transcende as barreiras do universo visível, contempla e se expande na imensidade.” (Marquês de Maricá)

Aquele que nunca se viu em um momento de decisão, em uma encruzilhada, que atire a primeira pedra. Parece-me que o problema é geral; sempre que alguém deve ser feliz – seja por encargo ou não do destino – alguém, também, vai se entristecer. O que nos faz pensar que somente nós podemos ser felizes? Será que, em verdade, somos egoístas? Marco Aurélio disse: "A arte de viver é mais parecida com a luta do que com a dança, na medida em que está pronta para enfrentar tanto o inesperado como o imprevisto e não está preparada para cair."

A grande maioria confunde, diz querer a felicidade do outro quando a perspectiva favorece apenas um dos extremos em questão. Vejo ser difícil quando os assuntos exigem um melhor pensar - o ser jamais, em via de instinto, deixa de pensar em si para oferecer seu lugar ao próximo. Por outro lado, uma vez que isso se torne real, é quase impossível traçar novas linhas que estabelecem os limites de cada momento, deitando por terra a ilusão de que somente um dos lados pode ter razão, ou se beneficiar. A vida nos beneficia com normas gerais que buscam entregar a cada um a chave da porta que o conduzirá à sua própria felicidade; porém, cada um terá como dever adaptar a si mesmo neste grande labirinto de emoções.

É aí que todos nós parecemos iguais; perdidos, sem norte, contudo, atuando sempre pela vontade; pelo instinto que nos faz seguir, e uma vez utilizadas as ferramentas corretas, nenhum constrangimento lhe é imposto, nenhuma linha lhe é traçada... Está livre para simplesmente ser! Ver o mundo a partir do outro é estar em comunhão com si mesmo. É ter a sabedoria de perceber que os lados são iguais, e por isso se necessitam. "Muitas vezes erra não apenas quem faz, mas também quem deixa de fazer alguma coisa." – disse Marco Aurélio.

Pergunta-me a mãe de um amigo: “...mas, Jordan, você é feliz?”

A felicidade é um estado que extrapola as próprias convicções para existir. – disse-lhe

Enquanto seres humanos, nós somos feitos de realidades construídas por nós mesmos.Todos buscamos realidades que estejam de acordo com as nossas verdades; que sejam pelo menos parecidas. Para alguns mestres, o ponto é: que o passado e o presente não se tornem inimigos. Afinal de contas, o motivo do passado e do presente é sempre o mesmo. Todos nós somos livres, mas quando nos rebelamos e abusamos desta liberdade, surge, então, a necessidade da dor. Curioso, não?


Zhuangzi, um célebre autor chinês, conta a história de Zhu Pingman, que foi procurar um mestre para aprender a melhor maneira de matar dragões.

O mestre treinou Pingman por dez anos seguidos, até que este conseguiu desenvolver - à perfeição - a técnica mais sofisticada de matar dragões.

A partir daí, Pingman passou o resto da vida procurando dragões, a fim de que pudesse mostrar a todos sua habilidade.

Para sua decepção, nunca encontrou nenhum.

O autor da história comenta: “todos nós nos preparamos para matar dragões, e terminamos sendo devorados pelas formigas dos detalhes, as quais nunca prestamos atenção”. (Retirado do site de Paulo Coelho)

(JORDAN AUGUSTO possui especialização em psicologia oriental, filosofia clássica e tradicional)

http://www.bugei.com.br/

ENTENDENDO AS CRÍTICAS (Jordan Augusto)


"É incrível que, em pleno séc.XXI e com toda esta estufa do efeito globalização, o ser humano ainda não aprendeu a conviver com críticas e desgostos alheios. Toda e qualquer movimentação que reverbera no exterior de nosso habitat está sujeita a observações e críticas. É importante entendermos que ela faz parte de nossa busca pessoal tal qual é coadjuvante de nosso amadurecimento espiritual.

Muitas pessoas (± 70%) reagem às críticas sentindo-se terrivelmente mal. Então, elas tentam sair do buraco emocional que cavaram para si mesmas através da racionalização, tentando sentir-se novamente bem, tentando ser objetivas etc. Mas, como já estão se sentindo mal, em geral nenhuma dessas tentativas dá bons resultados. E, como a maior parte dos esforços é dirigida a reconquistar a sensação de bem-estar, deixam de fazer bom uso das informações úteis contidas na crítica. E, quando o fazem, é geralmente muito tempo depois. No extremo oposto, outras (± 20%) pessoas reagem às críticas simplesmente rejeitando-as. Elas se protegem contra a sensação de mal-estar, mas com isso deixam de levar em consideração se há algo de útil ou válido na crítica que receberam. Um terceiro grupo (± 10%) pode receber críticas sem sentir mal. Também conseguem refletir se a crítica contém algum tipo de informação útil e usá-lo para modificar seu comportamento.

Evidentemente, os três grupos não são categorias rígidas. É possível que uma mesma pessoa possa encontrar exemplos de cada um desses padrões nela mesma, dependendo do seu estado de espírito, do contexto, de quem fez a crítica, da estrutura da crítica etc. A maioria das pessoas às vezes sente-se mal e reage de maneira desagradável ao comentário mais inocente. Outras vezes, as pessoas se sentem tão bem, que por mais que a crítica seja mordaz, conseguirão processá-la como simples informação.

Embora poucas pessoas se queixem, muita gente é tão vulnerável ao elogio quanto à crítica. Há pessoas que enchem os outros de cumprimentos apenas para se aproveitar ou evitar que eles notem problemas de comportamento que precisam ser corrigidos. Se não avaliarmos cuidadosamente os elogios que recebemos, podemos passar a acreditar em coisas que não são verdadeiras. As pessoas sensíveis a bajulações são menos receptivas ao feedback externo, e quando isso não pode mais ser evitado, a decepção é imensa. Às vezes as pessoas que não sabem avaliar críticas ou elogios, simplesmente evitam quem possa criticá-las, cercando-se de pessoas bajuladoras. Mesmo que isso torne sua vida mais agradável durante algum tempo, essas pessoas deixam de receber informações úteis, e mais cedo ou mais tarde quebram a cara.

Para lidar com críticas e elogios eficazmente, é necessário aprender a avaliar as diferenças entre o nosso comportamento e a crítica vinda de outrem e aceitar as disparidades entre o nosso comportamento e nossas ilusões, para estar receptivo a todas as fontes de informação, enquanto se é capaz de tomar suas próprias decisões baseados em valores, objetivos e critérios próprios..."


(JORDAN AUGUSTO possui especialização em psicologia oriental, filosofia clássica e tradicional)

Muitas Pessoas Andam Pela Vida Com Viseira, Só Enxergam O Que Querem (Sandra R. da Luz Inácio)


Estas pessoas buscam a verdade, mas vivem da mentira.
Buscam o amor, mas se fortalecem no ódio.
Buscam o poder, mas se sentem constantemente enfraquecidos e incapazes.
Buscam Deus em todos os lugares, menos nas suas verdades.
Quando achavam que estavam no caminho certo, surgem vários outros rumos e não sabem qual seguir.
Plantam, mas geralmente colhem os frutos verdes demais ou estes nem chegam a germinar.
Buscam dinheiro e status, e quando os encontram, encontram também a solidão e o medo.
Querem tudo, mas perdem da mesma forma porque falta amor em tudo que fazem.
Querem abundância, mas são incapazes de dividir qualquer coisa que seja.
Julgam e condenam os outros, e muitas vezes pelas mesmas coisas que eles fazem.
Procuram preencher o vazio que está dentro deles, percorrem céus, terra e mares e o vazio só aumenta.
Buscam um ponto de chegada, e retornam sempre ao mesmo lugar.
Cobram os sentimentos por ele nos outros, mas não sabem o que realmente sentem.
Procuram... procuram... procuram... e não têm certeza do que querem encontrar.
Julgam sem razão ou piedade, mas detestam serem julgados.
Procuram a beleza em todos os cantos, mas não encontram porque a beleza está dentro de cada um.
Amam o que não podem ter, não gostam do que possuem.
Dizem que são pacifistas, mas só buscam as guerras, mesmo que internas.
Correm risco de vida em nome da beleza física, mas sequer se importam com a sua beleza interna.
Valorizam os que não se importam com eles de verdade, e aqueles que se importam, não dão valor algum.
Exigem que sejam respeitados em tudo, mas sequer respeitam a opinião de uma outra pessoa.
Afirmam terem muitos sentimentos, mas magoam constantemente os sentimentos dos outros.
Podem ter quase tudo, mas passam a vida invejando o pouco que o outro possui.
Querem toda a liberdade, mas escravizam o outro por um simples capricho.
Aprenderam a procurar a felicidade limitando os desejos, ao invés de satisfazê-los.
Querem Tolerância e perdão para seus deslizes, mas criticam tudo e não perdoam.
Admiram os grandes mestres, mas não seguem nenhum dos seus mandamentos.
Exigem fidelidade, mas não são fiéis nem mesmo aos seus desejos.
Afirmam que são felizes, mas o sorriso verdadeiro e alegre do outro os incomoda.
Planejam e vivem focados no futuro, sendo que nem sabem se haverá amanhã.

Sandra Inácio é:
•PhD em Administração de Empresas pela Flórida Christian University (EUA)
•PhD em Psicologia Clínica pela Flórida Christian University (EUA)
•Psicanalista e Diretora de Assessoria Geral da Sociedade de Psicanálise Transcendental.
•Mestre em Administração de Empresas, Especialista em Estratégias de Marketing em Turismo e Hotelaria, MBA em Gestão de Pessoas e Especialista em Informática Gerencial.
•Psicanalista voluntária na Casa de Apoio à Criança Carente com Câncer e na Universidade da Terceira Idade.
•Professora da FGV do Rio de Janeiro e de mais 03 universidades.
•Empresária no ramo moveleiro
•Responsável e Membro do Conselho Editorial da Revista Empresa Familiar.
•Coordenadora do grupo de Excelência de Empresa Familiar do Conselho Regional de Administração de São Paulo - CRA.
•Diretora da DS Consultoria S/S Ltda, especializada em Empresas Familiares.
•Conciliadora, Mediadora e Árbitra Empresarial.
•Membro do Conselho Editorial e responsável pela Revista Empresa Familiar.
•Autora do livro O Perfil do Empreendedor e co-autora do livro Empresa Familiar: Conflitos e Soluções, juntamente com Domingos Ricca, Roberto Gonzalez e José Bernardo Enéas Oliveira.
•Vários artigos publicados na área de Administração e Psicanálise em revistas especializadas.
e-mail: sandra@empresafamiliar.com.br

13 de dezembro de 2009

A MORTE DEVAGAR (Martha Medeiros)

Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.
Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja quem não lê quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.

FIDELIDADE (Cacau Loureiro)


Quando decidimos o caminhar juntos é preciso ter o espírito
destituído do egoísmo, é necessário ampliar a sensibilidade.
É olhar, ver, ouvir, sentir sem máculas.
Fazer com que os corações batam em uníssono é tarefa para
os escolhidos na sopro supremo dos afetos.
Abrir mão das vaidades é exercício constante do dia a dia, é
apurar o olhar para estar acima do olhar meramente humano.
Aliança é mais que presente, é dádiva!...
Dividir a vida, os ideais, os sonhos, requer compromisso e
sacrifício para que as mãos estejam unidas sob qualquer condição.
Pensar o caminho olhando o outro é apreender o divino em nós.
Estar junto está muito além de assinar um contrato de partilha, é
aceitar um compromisso de doação de amor constante, sem limites.
A parceria do afeto é feita sob o alicerce da lealdade, sob o cume
altaneiro da justiça, é firmá-lo ante as montanhas colossais
da verdade e diante dos verdejantes campos da esperança.
Estar sintonizado no amor real é deixar as ondas da emoção
cobrir a todos que nos rodeia, é deixar o sol brilhar em nós e
espargir-se sobre todos. É imergir inteiro no mar que nos limpa
das mágoas e dos ressentimentos.
Saber se dar é lançar as sementes da benignidade esteja a terra
arada ou não; é caminhar sobre pedras com a atenção necessária
para salvar os brotos da afeição.

Amar verdadeiramente é perceber a escuridão que está no outro
e fazer-se farol para lhe lançar luz ateando o fogo que vivifica.
Na jornada da existência há lágrimas, há sorrisos, há momentos
de extrema decepção e de extrema felicidade, tudo isto para que
edifiquemos nossos espíritos para algo muito maior que nós.
Diante da escolha sagrada, sob a égide do Pai Excelso quem não
se edifica para Ele não se edifica para os homens, não se edifica
para viver a vida na plenitude do amor.
É preciso haver dignidade que também dignifique o outro,
ser uma só carne, ser dois “inteiros”, conquistar-se um ao outro
persistentemente, ter paciência, ter coragem para laborar
constantemente a verdade maior que há em nós de que o
mais importante é o amor, eis a lei imutável que vem de
Deus e que promove a Fidelidade entre os seres.

ESTAR BEM CONSIGO MESMO (Cherry Hartman)


1. Confia em ti mesmo. Tu sabes o que queres e aquilo de que precisas.

2. Põe-te a ti mesmo em primeiro lugar. Não podes ser ninguém para os outros se não fores capaz de cuidar de ti mesmo.

3. Deixa que os outros conheçam os teus sentimentos; eles são como a seiva que alimenta a árvore.

4. Exprime as tuas opiniões. É bom ouvires-te a falar a ti mesmo.

5. Valoriza o teu pensamento, pois ele é bom.

6. Reserva para ti o tempo e o espaço de que precisas, sobretudo se os outros querem sempre mais e mais de ti

7. Quando precisares de alguma coisa, nunca penses que a não mereces. Mesmo que a não possas ter, não é mal nenhum precisares dela.

8. Quando tiveres algum receio, comunica-o a alguém. O isolamento em si mesmo alimenta o medo e piora ainda mais as coisas.

9. Quando te apetecer fugir, não procures evitar o medo. Pensa que aquilo de que tens medo acontecerá mesmo, e decide o que hás-de fazer.

10. Se estiveres zangado, não abafes esse sentimento. Experimenta tomar uma atitude. O que quer que faças é sempre melhor que amordaçar o coração.

11. Quando estiveres triste, pensa em algo que seja animador.

12. Quando alguém te ofender, di-lo a quem te ofendeu. Conservar esse sentimento só faz com que ele cresça ainda mais.

13. Quando vires que alguém está mal humorado, respira. Não te deixes assaltar pelas agressões dos outros.

14. Quando tiveres algo para fazer e não o quiseres fazer, resolve o que realmente tem que ser feito e o que pode esperar.

15. Quando desejares alguma coisa de alguém, pede-a. Não há problema se ele disser que não. Perguntar significa ser verdadeiro contigo mesmo.

16. Quando precisares de ajuda, pede-a. Mas prepara-te para que as pessoas digam que não, se não quiserem ajudar.

17. Quando as pessoas te desiludem, geralmente o problema é delas e não teu. Pede a outros que te ajudem e não desanimes.

18. Quando te sentires só, acredita que há sempre alguém em algum lugar, pronto a fazer-te companhia. E imagina como seria bom se isso acontecesse. Decide e põe pés ao caminho.

19. Quando estiveres ansioso, toma consciência do futuro horrível que estás a construir e, mal possas regressa ao presente.

20. Quando desejares dizer algo agradável a alguém, não hesites. Expressa os teus sentimentos... afinal, isso não custa nada.

21. Se alguém gritar contigo, resiste fisicamente descansando na tua cadeira ou fixando firmemente os pés em terra. Respira fundo. E pensa na mensagem que ele te quer comunicar.

22. Quando estiveres a atormentar-te a ti mesmo, pára. Só deves fazer isso quando precisares de alguma coisa. Descobre o que precisas e então conquista-o.

23. Quando tudo te parecer errado, quando te sentires deprimido e precisares de algum ânimo, pede-o. E, só depois, pensa no que hás-de fazer.

24. Quando quiseres falar com alguém que não conheces e tens medo, respira fundo. Não penses muito e vai em frente. Se não fores bem sucedido, podes sempre parar.

25. Se estiveres a fazer alguma coisa de que não gostas (como, por exemplo, beber em demasia, fumar ou reagir mal por tudo e por nada), pára e pensa no que realmente queres. Se não fores capaz de progedir sozinho, fala abertamente com alguém sobre o assunto.

26. Quando não consegues racicionar com lógica, pára de pensar; procura apenas sentir o pulsar de cada parcela do teu corpo.

27. Quando precisares de amor, vai à procura dele. Há sempre alguém disposto a amar-te.

28. Quando estás confuso, geralmente é porque a tua mente te aconselha a fazer uma coisa e a tua vontade quer fazer outra. Dialoga contigo mesmo ou então escreve, ou faz as duas coisas com um amigo.

29. Quando te sentires pressionado, abranda o passo. De forma consciente, reduz a respiração, a fala e os movimentos.

30. Quando a razão for de lágrimas, chora!

31. Quando te apetecer chorar e o local não for apropriado, aceita a dor e promete que, mais tarde, hás-de chorar a vontade. E, cumpre a promessa.

32. Quando alguém te fizer mal, zanga-te com ele a valer.

33. Quando tudo parecer cinzento, vai à procura da cor.

34. Quando te sentires como uma criança, cuida bem da criança que há dentro de ti.

35. Quando alguém te oferecer uma prenda, diz: “obrigado”. É tudo o que tens que fazer. Dar uma prenda não é nenhum dever.

36. Quando alguém te ama, aceita o fato e alegra-te. O amor não é uma obrigação. Não tens que fazer nada em troca.

37. Se te parecer que alguma destas normas não serve para ti, fala disso com alguém. E, depois, torna a escrevê-la de maneira que se adapte a ti.

12 de dezembro de 2009

LASCAS (Claudia Loureiro)


Saibas amigo que o meu espírito
é liberto, ele não pára, pois que
sou muito mais que movimento.
Sou impulsiva, não tão temperamental,
tenho a alma impetuosa, já que o meu
lema não é fazer o mal.
O meu intento é arrebatar corações,
quem sabe arrebentar o meu...
Não propago ideologias, pois que
também transgrido leis.
Quero penetrar em teu interior sem
dúvidas, sem assombros, quem sabe
chorar em teu ombro.
No momento eu travo guerra sem sangue,
sem escombros, tu sabes que não podemos
ser o que queremos, porque somos o que
somos, nada mais além.
Sou mulher madura, vivida, eis a minha
realidade, portanto, em mim todas esta
indigência, todas estas vontades... em
dulcificar a tua vida, em aplacar minha
pressa.
Não me peças sacrifícios, também não
me impeças a sedução.
Em meus versos loquazes falo sobre
coisas fugazes, todo o calor do meu
coração.
Minhas palavras são faíscas, os meus
sentimentos são lascas, consumindo
como fogo o carrossel de minhas
emoções.

SURSIS (Claudia Loureiro)


De fato eu sei o que procuro, o
que é meu de direito, a liberdade.
No auge da minha vida, da minha
idade, já não posso olhar para trás,
pois que na vida, eu busco muito mais.
Minhas palavras têm força, visto que
extraí do meu espírito toda essência
da minha existência.
Vivo comoções internas, mas, não
oblitero o que em mim é vital: a
transparência.
Quero descobrir algo novo, que
me mova as barreiras, quebre os
meus muros, faça-me viver de
novo.
Sinto-me morta, no entanto, meu
coração é intenso, poderoso.
O mundo, descobri, é deveras
desamante, mas, eu sigo minha
estrada de vínculos, de sentimentos.
Eu sou rebelde, e revés, torno-me ré...
Quero ser livre, peço: deixem-me viver;
para cantar a rebeldia dos meus versos,
pois que eles são independentes; para
versejar a utopia dos meus sonhos,
rimar o canto e a melodia que é a
vida, pois que ela é valiosa.
Não quero mais as grades... as grades
dos tormentos, dos tolhimentos... dos
julgamentos.
Não me submeto aos autoritarismos,
às covardias... busco e clamo por
justiça, e nada neste mundo obsta o
meu riso. Neste mundo supra-real, eu
sou, eu quero ser simples, natural.
Reinvidico o "sursis", para ter direito
de expor tudo o que o meu coração
precisa, sente e diz.

11 de dezembro de 2009

TEUS OLHOS (Cacau Loureiro)


Essa chama verde que
abrasa meus instintos,
revela-me também seu
temperamento fugaz.
Teus olhos...
Aquarela difusa na
sombra do meu olhar.
Teus olhos...
Tão belos...
Que os temo fitar.
Teus olhos...
Herança verde que
me faz sonhar...
Com o colorido do
futuro, com minha
paz de espírito.
Teus olhos...
Tão pequenos, mas
que prometem o
infinito.
Teus olhos...
Um átomo de inatingível
dimensão onde pulsa a
vida; pequena célula que
refaz meu coração.
Teus olhos...
Claros, breves, leves,
firmes, simples, fortes.
Teus olhos...
Luz que me guia na escuridão!


QUANDO OS VÍNCULOS ADOECEM (Adriano Oliveira)

"...O adoecer de um vínculo ocorre quando negligenciamos as necessidades emocionais de compreensão, companheirismo e afeto do outro. Podemos estar ao seu lado, mas não ouvimos seu mundo interno. Podemos estar juntos, mas não procuramos adentrar os seus sentimentos e ver como aquela criatura se encontra: se está triste, se está angustiada, ansiosa, preocupada... Não ouvimos o que está por detrás do sorriso que esconde uma tristeza muito grande, não raras vezes, mas que evita queixar-se com medo de perder a amizade, de ser inconveniente. Um vínculo adoece, noutros momentos, quando o outro percebe que se faz alguém descartável para nós – quando percebe que apenas estamos com ele, com ela, quando convém. Quando um vínculo adoece, pois, as expectativas de afeto e consideração por parte daquele a quem estamos vinculados não se vêem satisfeitas, preenchidas. Certamente que ninguém é o responsável pela felicidade do outro.
Entretanto, todos nós somos responsáveis pela quota de afeto que a nós cabe doarmos em relação a pessoas a quem nos vinculamos afetivamente.
Quando os vínculos adoecem, por conseguinte, eles dão lugar a sintomas que, em verdade, disfarçam seus verdadeiros motivos. O pai que reclama do filho, de sua desorganização ou falta de colaboração em casa, pode, pois, estar a queixar-se da falta de companheirismo e afeto por parte do filho. A mãe, que em suas atitudes acaba por ferir a liberdade da filha junto às amigas, justificando-se pela necessidade de limites por parte desta, pode estar, por sua vez, a cobrar mais carinho e consideração por parte de sua antiga companheira, que agora prefere as colegas de escola.
Quando não fazemos a leitura do que está realmente por detrás das palavras, não escutamos o mundo interno daquele que se vinculou a nós. Assim, por detrás de uma palavras hostil, carregada de raiva, sempre há um sentimento inconfessável, há uma queixa oculta que teme mostrar-se, que não se expõe por falta de habilidade emocional ou pelo medo da rejeição. Por detrás do azedume de algumas verbalizações, desse modo, existe a busca de ser preenchido por algo que o indivíduo julga não estar recebendo de nós.

*****
Nossos vínculos estão doentes.... necessitando de nosso olhar, para então, podermos pensar cuidadosamente e com carinho sobre onde estamos canalizando em demasia nossas energias. Onde estamos concentrando nossos investimentos psíquicos, de forma a não restarem energias para aqueles que realmente precisam de nós? Em que, pois, se tem transformado nossas relações afetivas, de fato, em conexões, temporárias, fugazes e desinteressadas, ou em vínculos, perenes, responsáveis? Cada um de nós sabe, ao olharmos com cuidado para nossas vidas, onde estamos sendo negligentes com as pessoas ao nosso redor, onde poderíamos doar mais nosso afeto e nossas energias. Cada um de nós sabe qual pessoa está esperando algo de nós, um gesto, uma palavra, uma atitude amiga, uma escuta verdadeira, que saiba adentrar ao campo de experiência do outro, à sua forma de ver e sentir as coisas.
Se tu te encontras envolvido em discussões constantes e intérminas no seio familiar... Se tu se encontras diante de relacionamentos afetivos onde a hostilidade tem se apresentado com freqüência, torna-se imperioso o teu olhar cuidadoso, paciente e sincero para o que ocorre nesse instante de tua vida. Um olhar que não veja os argumentos das discussões, mas os sentimentos que estão por detrás deles. Uma escuta que não perceba as palavras, a razão, mas o coração. E então tu poderás começar a ver com clareza onde o adoecimento está se dando nos teus vínculos. Terás a oportunidade, finalmente, de detectar onde está o ferimento emocional que necessita ser tratado e curado."

OLIVEIRA, Adriano Machado (2008). Jovens e Adolescentes no Ensino Médio: sintomas de uma sistemática desvalorização das culturas juvenis. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Santa Maria.

NO DIA DO NOBEL DA PAZ... (Reinaldo Azevedo)

É, minha gente! Tio Rei, que abomina o clichê, não vai resistir desta vez: nada como um dia depois do outro.

Num post de de 18 de novembro, escrevi aqui um texto sobre a visita de Ahmadinejad ao Brasil. Eis um trecho:

Quem defende a paz na conversa com um delinqüente está defendendo a paz dos delinqüentes. Já é comum citar, eu sei, mas vá lá. Quando Chamberlain e Daladier disseram a Hitler que ele poderia ficar com um naco da Checoslováquia desde que, depois, a Europa vivesse em paz, estavam fazendo, sem querer, a opção pela guerra. E com desonra. A “paz” a qualquer custo é coisa de bandidos. Os milhões de mortos da Segunda Guerra não deixam de ser uma magnífica obra do “pacifismo”.

Fui chamado de “tarado pela guerra”, se “sanguinário em potencial”, de defensor da solução de conflitos por meio da “violência”. De, como sempre, “reacionário”, “direitista” e afins.

Ontem, em Oslo, Barack Obama recebeu o Prêmio Nobel da Paz. E disse o seguinte:

“For make no mistake: Evil does exist in the world. A nonviolent movement could not have halted Hitler’s armies. Negotiations cannot convince Al Qaeda’s leaders to lay down their arms.”

Brinquei que Obama havia repetido as minhas palavras — e aqueles seres orelhudos, de pêlos reluzentes, acharam que eu falava a sério. Fazer o quê? Lula pode até tirar o “povo da merda”. Mas não consegue tirar da merda o cérebro dessa gente.

Não vou dizer aqui que o candidato Barack Obama era um pacifista — ou o meu amigo Demétro Magnoli me envia um e-mail me esculhambando: “Que absurdo! Ele nunca foi pacifista!” É, nunca! Foram por ele, e ele permitiu que a imagem prosperasse — afinal e desde sempre, o homem é mesmo um político, o que os americanos já aprenderam a ver. E o tratam agora como tal, sinal de que aquele continua a ser um grande país, e que o declínio, tão esperado por tantos, vai demorar.

Em seu discurso), Obama disse que a guerra surgiu junto com o primeiro homem e que, com o tempo e o concurso de filósofos, religiosos e estadistas, desenvolveu-se o conceito da “guerra justa”, que se dá sob certas condições: se é o último recurso e para se defender, se a força usada é proporcional, se os civis, tanto quanto possível, são preservados da violência. No original:

Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, como naquele rock antigo, mas realmente… Nunca antes nestemundo houve um discurso como este de um vencedor do Nobel da Paz. Não por acaso, ele próprio chamou sua premiação de “controversa”. Em seu editorial, o New York Times afirmou que Obama certamente falou o que deveria mesmo falar, mas que os presentes certamente ouviram o que não gostariam de ter ouvido.

Sim, ele tirou uma casquinha de George W. Bush dizendo que proibiu a tortura, que mandou fechar Guantánamo, que reafirmou o compromisso dos EUA com a Convenção de Genebra, coisas que fazem os EUA moralmente superiores aos adversários…

Muito justo. Mas George w. Bush, afinal, não ganhou o Prêmio Nobel da Paz, não é mesmo? E aí está o problema. E notem: o prêmio é obviamente absurdo porque não há ainda paz que Obama tenha promovido. E pode até ser que eu venha a considerá-lo merecedor de tal láurea. Mas, se eu acho, certamente a turma que o indicou não acharia. A expectativa da turma do miolo mole era a de que, com ele, viria o fim das guerras. E não veio. E nós sempre dissemos aqui que não viria.

Afinal, estamos com Obama neste particular, não e? O pacifismo pode ser só o outro nome do morticínio em massa. No dia do Nobel da Paz, Obama fez um belo discurso sobre a guerra.

Mais uma vez, venceu a lógica.
OBS.: A maior parte do dircurso em inglês de Obama citado aqui na íntegra pelo jornalista foi omitida.
(Reinaldo Azevedo é jornalista e colunista da VEJA.COM)

10 de dezembro de 2009

AMAR BONITO (Artur da Távola)


Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar:
Aprendam a fazer bonito seu amor.
Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito.
Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito.
Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender...
Tenho visto muito amor por aí.
Amores mesmo: bravios, gigantescos, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva.
Mas esbarram na dificuldade de se tornar bonitos.
Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção.
Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.
Aí, esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais, de repente se percebem ameaçados e tão somente porque não sabem ser bonitos: cobram, exigem, rotinizam, descuidam, reclamam, deixam de compreender, necessitam mais do que oferecem, precisam mais do que atendem, enchem-se de razões.
Sim, de razões.
Ter razão é o maior perigo no amor.
Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reivindicar, de exigir justiça, equidade, equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa ter razão.
Nem queira!!!
Ter razão é um perigo: em geral, enfeia um amor, pois é invocado com justiça, mas na hora errada.
Amar bonito é saber a hora de ter razão.
Ponha a mão na consciência. Você tem certeza de que está fazendo o seu amor bonito?
De que está tirando do gesto, da ação, da reação, do olhar, da saudade, da alegria do encontro, da dor do desencontro a maior beleza possível?
Talvez não.
Cheio ou cheia de razões, você separa do amor apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode trazer.
Quem espera mais do que isso sofre e, sofrendo, deixa de amar bonito.
Sofrendo, deixa de ser alegre, igual, irmão, criança.
E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.
Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia.
Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama.
Saia cantando e olhe alegre.
Recomenda-se: encabulamentos, ser pego em flagrante gostando, não se cansar de olhar e olhar, não atrapalhar a convivência com teorizações, adiar sempre se possível com beijos aquela conversa importante que precisamos ter, arquivar, se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida.
Para quem ama, toda atenção é sempre pouca.
Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser toda a atenção possível.
Quem ama bonito não gasta tempo dessa atenção cobrando a que deixou de ter.
Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores que vemos a vida como criança de nariz encostado na vitrine cheia de brinquedos dos nossos sonhos);
não teorize sobre o amor, ame.
Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.
Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme, como:
a sinceridade, abrir o coração, contar a verdade do tamanho do amor que sente;
não dar certo e depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito).
Jogue pro alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas, atitudes sabiamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser.
Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs.
Falando besteiras, mas criando sempre.
Gaguejando flores.
Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil.
Revivendo os caminhos que intuiu em criança.
Sem medo de dizer eu quero, eu estou com vontade.
Deixe o seu amor ser a mais verdadeira expressão de tudo que você é.
Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto.
Não se preocupe mais com ele e suas definições.
Cuide agora da forma do amor:
Cuide da voz.
Cuide da fala.
Cuide do cuidado.
Cuide de você.
Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz.

FAÇA HOJE, NÃO AMANHÃ (Chico Xavier)

Diz o preguiçoso: "Amanhã farei". Exclama o fraco: "Amanhã terei forças". Assevera o delinqüente: "Amanhã regenero-me". É imperioso reconhecer, porém, que a criatura, adiando o esforço pessoal, não alcançou, ainda, a noção real do tempo. Quem não aproveita a bênção do dia vive distante da glória do século.

A alma sem coragem de avançar cem passos não caminhará vinte mil. O lavrador que perde a hora de semear não consegue prever as conseqüências da procrastinação do serviço a que se devota, porque, entre uma hora e outra, podem surgir impedimentos e lutas de indefinível duração.

Muita gente aguarda a morte para entrar numa boa vida. Contudo a lei é clara quanto à destinação de cada um de nós. Alcançaremos sempre os resultados a que nos propomos.

Se todas as aves possuem asas, nem todas se ajustam à mesma tarefa nem planam no mesmo nível. A andorinha voa na direção do clima primaveril, mas o corvo, de modo geral, se consagra, em qualquer tempo, aos detritos do chão. Aquilo que o homem procura agora surpreenderá amanhã, à frente dos olhos e em torno do coração.

Cuida, pois, de fazer, sem delonga, quanto deve ser feito em benefício de tua própria felicidade, porque o Amanhã será muito agradável e benéfico somente para aquele que trabalha no bem, que cresce no ideal superior e que aperfeiçoa nas abençoadas horas de Hoje.

9 de dezembro de 2009

PORVIR (Cacau Loureiro)


Eu desejei tanto a claridade, as coloridas
flores, o multifacetado arco-íris, as espessas
rosas rubras, o saboroso vinho, a terçã febre
dos desejos... Mas o egoísmo sombreou e
envenenou o meu sentimento mais sublime.
Num ímpeto abri da razão as janelas, soltei
as asas, libertei-me das amarras, e de repente
o sol que outrora brilhara em meu caminho

trouxe a dolorida, mas necessária liberdade.
Nos jardins por onde sonhei as sementes
atrofiadas frutificaram imaturas sob o peso
do raro fruto que eu deveria colher.
Minhas mãos sujas da terra amarga,
meu coração ensangüentado por duros

espinhos, minhas loucas palavras vociferadas
foram espadas a matar daninha erva.
Maldito enleio, mundo infame fez-me
perceber como as almas são tão rasas.
A cova eu sei, ora é dos lobos, ora dos leões!...

Não há temor, pois descobri que as flores
superficiais não sobrevivem às intempéries,
porque há de haver para se susterem perante
a luz o forte laço da lealdade.
Não há mais sonhos posto que o trajeto
foi interrompido por ambições funestas,
por falsidades, corrompido foi por aspirações
tão pobres e torpes.
São ignóbeis os que não penetram fundo
no humano espírito, estes são andróides
a se fingirem em humano aspecto, já que
os "judas" ainda hoje beijam as frontes

convictas...
O verbo duro lançou navalhas em
têmpera esfumaçada em cobardia.
Mas, eu não me deito em dores, eu
encaro a vida, ignoro os fúteis e
não me perco em tempo pretérito.
Eu sigo a estrada... E sem salvaguardas
o meu futuro eu escolho hoje!...

PENSANDO A LIBERDADE (Anna Paula R. Mariano)


Não há quem não se encante com a idéia de liberdade. A criança quer ser livre para brincar o quanto quiser, sem pensar que terá hora para tomar banho ou dormir. O adolescente quer a liberdade para sair e chegar a hora que bem entender, para escolher seus amigos independente da opinião dos pais. O adulto quer a liberdade do final de semana para fazer tudo aquilo que deseja: aquela viagem, o cineminha ou simplesmente ficar à toa. Já o idoso sente desfrutar da liberdade, aquela conquistada ao longo de sua vida que o isenta das preocupações em relação ao que os outros vão pensar - nessa fase tudo é permitido, tudo se justifica. Será?
O que nós temos como referência em cada uma dessas situações é a liberdade enquanto poder. Poder fazer o que se quer, poder fazer o que se deseja. É uma sensação que ultrapassa limites. Quanto menos limites/regras/restrições, mais livre é o indivíduo. Porém, engana-se quem pensa a liberdade dessa maneira.
Não podemos desconsiderar que existe uma realidade que sempre impõem regras a serem respeitadas e delas dependem a convivência saudável de uma comunidade. Liberdade no sentido de poder fazer tudo o que se quer é muito mais um desejo - ou uma ilusão - do que propriamente a realidade.
Mas ainda que digamos que o homem está sempre, necessariamente, enredado em uma trama de acontecimentos e relações que o constituem, ao mesmo tempo em que ele exerce uma influência nessa trama, há algo que permanece livre no homem, porém esse algo é bem diferente dessa liberdade sem fronteiras.
Vamos explicar melhor: o homem não é totalmente determinado. Algo permanece livre, algo que não pode ser demonstrado pois é uma questão axiomática. É o livre arbítrio que pode ser apenas vivenciado, jamais sentenciado, explicado em termos lógicos. O livre-arbítrio é um dado que não se demonstra, mas sua verdade deve ser imperiosa. Sartre dizia: “o livre-arbítrio só pode ser livre se ele for um absurdo, porque se tiver razão, já não é livre, pois será determinado pela razão”.
Nesse momento, propomos uma reflexão ontológica, situando a discussão em um horizonte mais amplo de possibilidades que diz respeito ao Ser.
A primeira questão que se impõe é: como se mostra o ser-livre do Homem? Como resposta a essa pergunta, temos que ser-livre é para o Homem um dom que se manifesta no estar aberto às possibilidades. Portanto, ser-livre é estar fundamentado, enraizado, nas possibilidades.
Também podemos dizer que o ser-livre do Homem é estar lançado na angústia, uma vez que enquanto caminhos que surjam como possibilidades, até que se decida por um deles o que temos é o vazio, é o nada, a pura possibilidade. E para que o Homem efetive uma escolha, é preciso que ele se aproprie dessa escolha.
Apropriar-se da escolha quer dizer acolher algo que faça sentido para o Homem, que passe a fazer parte de sua vida. É fazer uma escolha consciente, considerando limites e possibilidades singulares. Quando você pode escolher, na verdade você tem que escolher. Não há como se omitir à escolha. O não escolher já é uma escolha. Porém as escolhas podem ser mais ou menos conscientes. Quando ela não é clara para o Homem, quando os motivos não estão explicitados, a escolha transforma-se em condenação - pois de qualquer manera haverá uma escolha.
Outra idéia que surge nesse caminho é que o poder escolher é estar livre para renunciar. Quando eu empunho uma escolha, estou abrindo mão de todas as outras. E necessariamente eu tenho que fazer as escolhas, sem ter garantia absoluta de sucesso.
Com o que colocamos até aqui, fica claro que a liberdade é própria do Homem, que ao realizar sua vida exerce seu ser-livre em cada escolha que faz. Todas as nossas escolhas trazem conseqüências e somos responsáveis por cada uma delas. Muitos tentam fugir dessas conseqüências evitando fazer escolhas: “deixo que o outro escolha por mim, pois se algo der errado, não fui eu que escolhi, a responsabilidade é do outro”. Essa forma de agir já é uma escolha, e aqui a liberdade não é um dom do qual o homem se apropriou, ela é condenação. Outras pessoas escolhem a fantasia, a ilusão, como forma de viver. Evitam os verdadeiros dilemas, acomodando-se em uma zona de conforto, acreditando na vida cor-de-rosa, de conto de fadas. E se algo sai errado é como se o chão lhes faltasse. “Não era pra ser assim”, e não conseguem lidar com as conseqüências de suas escolhas a partir da realidade. Escondem-se atrás de máscaras, e desse modo não há como exercer plenamente sua liberdade enquanto dom.
Ser livre é saber-se responsável por cada momento de seu viver, cuidando de suas escolhas da maneira mais autêntica possível, encarando os desafios, a angústia que é estar lançado em um mundo que não oferece nenhum tipo de garantia de sucesso ou felicidade, pois essas conquistas irão depender da maneira como cada um constrói seu caminho para realização de seus projetos, como bem dizia Sartre: “O homem não é senão seu projeto e só existe na medida em que se realiza”
Para finalizar essa reflexão cito uma frase da música entitulada O anjo mais velho, do grupo O Teatro Mágico: “O fim é belo, incerto, depende de como você vê”.
Anna Paula Rodrigues Mariano
Psicóloga e Psicoterapeuta Existencial
Site: http://www.espacocuidar.com.br/