PENSAMENTO DO DIA
"A arte, meus amigos, não é um espelho do mundo, é sim, uma ferramenta para consertá-lo." (Vladimir Maiakovski)
REFLEXÃO
"Eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata. (Drummond de Andrade)
9 de dezembro de 2009
PORVIR (Cacau Loureiro)
Eu desejei tanto a claridade, as coloridas
flores, o multifacetado arco-íris, as espessas
rosas rubras, o saboroso vinho, a terçã febre
dos desejos... Mas o egoísmo sombreou e
envenenou o meu sentimento mais sublime.
Num ímpeto abri da razão as janelas, soltei
as asas, libertei-me das amarras, e de repente
o sol que outrora brilhara em meu caminho
trouxe a dolorida, mas necessária liberdade.
Nos jardins por onde sonhei as sementes
atrofiadas frutificaram imaturas sob o peso
do raro fruto que eu deveria colher.
Minhas mãos sujas da terra amarga,
meu coração ensangüentado por duros
espinhos, minhas loucas palavras vociferadas
foram espadas a matar daninha erva.
Maldito enleio, mundo infame fez-me
perceber como as almas são tão rasas.
A cova eu sei, ora é dos lobos, ora dos leões!...
Não há temor, pois descobri que as flores
superficiais não sobrevivem às intempéries,
porque há de haver para se susterem perante
a luz o forte laço da lealdade.
Não há mais sonhos posto que o trajeto
foi interrompido por ambições funestas,
por falsidades, corrompido foi por aspirações
tão pobres e torpes.
São ignóbeis os que não penetram fundo
no humano espírito, estes são andróides
a se fingirem em humano aspecto, já que
os "judas" ainda hoje beijam as frontes
convictas...
O verbo duro lançou navalhas em
têmpera esfumaçada em cobardia.
Mas, eu não me deito em dores, eu
encaro a vida, ignoro os fúteis e
não me perco em tempo pretérito.
Eu sigo a estrada... E sem salvaguardas
o meu futuro eu escolho hoje!...
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4 comentários:
Decidiu esquecer.
Decidiu ignorar.
Decidiu só... adormecer.
Os sonhos assaltaram-lhe a noite.
Seria o luar?
Cerrou os punhos... não, seria mais forte, seria firme como uma rocha. Adormeceria simplesmente e, quando despertasse…
Fechou os olhos.
Os dias do paraíso, do jardim do éden e de todas as almas que já guardara desfilaram-lhe diante dos olhos - muitas, centenas, incontáveis. Porque na verdade, sempre fora essa a razão última da sua existência, da sua missão.
Missão? Sim… missão, sem hora certa de inicio ou de fim, sem tempo para cumprir, sem limite; o fim estaria sempre nas suas mãos, bastava desejá-lo, sabia bem. Tal como sabia que a decisão, quando a tomasse… seria irreversível.
Tentou esquecer.
Tentou ignorar.
O sono não veio, as penas brancas das costas agitaram-se ao de leve e ela ergueu-se.
Chegara o momento.
Vagarosamente, soltou os laços de seda que seguravam as asas de penas, sabendo de antemão que, no preciso momento em que as soltasse dos dedos, elas desapareceriam e ela, até aí mais uma das inumeráveis anjos da guarda, passaria a ser simplesmente… uma vulgar alma humana, mortal, dolorida e só conseguindo voar nos olhos dos pássaros ou nos sonhos da noite. Sabia disso.
Mas a decisão estava tomada.
Tantas vozes guiara, tantas almas aconselhara que agora sentia - como nunca sentira até aí - que chegara a sua hora.
As vestes brancas caíram silenciosamente no chão e ela ficou nua na noite, desprotegida e só. Um último fulgor de luz rodeou-a para logo desaparecer de seguida.
Levou as mãos aos ombros, já sabendo que nada mais iria encontrar, para além da pele fina, muito branca.
Sorriu.
Uma estrela cadente rasgou os céus da noite e por um estranho pressentimento, ela sentiu que algures, numa parte incerta, alguém estaria nesse mesmo momento a decidir qual seria a alma - vestida de branco e de asas de penas - destinada a guardá-la até ao final dos seus dias, agora… tão simplesmente … humana.
Lindissimo Cacau, e de uma profundidade extraórdinaria.Beijos.
Grande Henfil, um dos cartoonistas mais inteligentes da praça.
Posso dizer que aprendi muito sobre "humor inteligente" graças a esse senhor.
Olá Cacau, gostei muito mesmo de suas páginas, estarei lhe acompanhando com certeza.
Abraços Marco
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