PENSAMENTO DO DIA

Prefiro andar pelos vales sombrios junto aos lobos, do que em campos floridos ao lado de falsos cordeiros. (Felipe Melliary)

REFLEXÃO

"Não é preciso ter muita coisa na vida, tendo noção já é meio caminho andado, pois gente sem noção dá muito trabalho!"

31 de outubro de 2010

PELO CAMINHO... (Cacau Loureiro)





















Eu vi pelo caminho um jovem chorando...
E o meu coração contrito viajou pelo etéreo do
tempo, aquele que não cala em nós
O vento levantava violentamente a poeira, mas
a chuva da purificação preparava os campos para
nova jornada;
Onde esconderam a seara dos bons?!
O dia a dia é forja para aqueles que enfrentam o
aço mendaz dos egoístas ignaros, mas o meu trajeto
eu cortei na estrada, eu sulquei com a têmpera
dos que querem a transformação.
Eu vi pelo caminho um jovem chorando...
Atordoado pelos longos e altos muros de pedras,
ensandecido pela dor da desesperança que
habita a terra. E eu lembrei das crianças descalças
nas ruas, pedi por todos aqueles que dormem nas
calçadas.
Eu tarjei em meu peito o relicário dos sonhos,
entoei em meu coração a música das estrelas,
porque só as luzes do alto iluminam a solidão das almas.
Eu vi pelo caminho um jovem chorando, constatei
que por nossa ignorância não compreendemos a vida
e não apreendemos a existência, e não percebemos
o outro.
Eu vi pelo caminho um jovem chorando e reconheci-me
nele nas horas de tristezas, nas perdas sem volta que tive,
nos atalhos das incompreensões humanas que vivo.
Eu vi pelo caminho um jovem chorando e li em suas
lágrimas uma mensagem de PAZ...

29 de outubro de 2010

ABISMAL (Cacau Loureiro)

Eu calo-me, mas não há silêncio em uma alma
conturbada, ela move-se, conduz-me ao amargor,
ao fervor, ao furor... agita me.
Detenho-me em minhas mãos aflitas; há silêncios
que me inquietam o espírito, suscitam minhas
recordações, dinamizam meus princípios há muito
coibidos.
Meu coração silencia, contudo, permanece o mesmo
romântico confesso; as palavras na ponta dos dedos,
meus anseios na ponta dos lábios e o fel na ponta da língua.
Assim repouso em tuas mãos meus ósculos já
cansados, mas, contagiados de desejo; assim, sinto-te
assim, tenho-te no próprio refrear do meu apego.
Esta distância, ponte quebrada afetiva, obriga me a alçar
voos maiores, pois que minha alma alada leva-me
ligeiramente a ti.
Neste lapso que nos separa, neste recôndito que tu te
escondes, já muito sorri, chorei também... não tenho
recato em dizer... pois vim à vida para viver!
Por isso desgarrado amigo, a canção que a minha
alma canta, ainda fala de amor e de esperança,
porque foi assim que até hoje vivi.
Há silêncios que estancam pensamentos e
desencadeiam mágoas, que reprimem qualquer
coração entusiasta.
Há silêncios que parecem o fechar de portas,
que são convites ao esquecimento.
Não há silêncio entre minha tristeza, o papel
e a caneta, há sim, o protesto insolente nas
minhas letras, nas minhas palavras.
Este é o meu grito... o que fazer?!
Não sou perfeita!
Os meus ais são como uma espada afiada que
transpassa o teu coração frio, calculista e
descrente, só assim te sangro sutilmente...
Entre a doçura do que sinto e a amargura do
que escrevo, existe um paradoxo abismal:
dois lábios que não se encontram, duas mentes
que não se entendem, duas cabeças que não
se compreendem, dois corações que não se reconhecem,
entretanto, duas almas que não se separam.

28 de outubro de 2010

SILENCIO (Cacau Loureiro)


Não ouço mais as vozes do meu coração,
calado e cansado segue devagar, num
novo ritmo que faça brotar novas emoções.
Não ouço mais as canções do meu coração,
batido e abatido segue sem fazer alarde,
junto aos novos sons do mundo.
Tento extrair poesia em meio a todo o seu
massacre... na verdade, não sinto exasperar-me
a dor, não sinto desesperar-me a ausência.
Em meio ao caos, aos vendavais da saudade,
minhas asas alçam voos maiores, enquanto
o meu coração se satisfaz com as emoções
menores.
Sigo os meus rumos, anversos aos que já
teci, talvez, horizontes abertos para a vida
que não vivi.
Portanto, as feridas abertas instigam-me à
luta, inspiram-me as letras.
Intrépida, ateio fogo nos monumentos de
cera que criei, vou lavando as aquarelas
que pintei das pessoas frias e fingidas;
melhor viver com a nua e crua realidade
dos seres...
Tenho visto muitas coisas, mas escolho
enxergar as que me são preciosas aos
olhos e ao espírito.
Ainda somos os mesmos animais de outrora,
sucumbindo ante os nossos mesquinhos
caprichos, ao nosso cruel egocentrismo.
Entretanto, sigo adiante, na esperança de
reconhecer que coisa inútil me dói...!

23 de outubro de 2010

VIA LÁCTEA (Cacau Loureiro)


Em meu planeta enigmático
surges como luminoso cometa.
Nenhuma previsão humanóide
poderia ser tão enfática e perfeita.
A minha sinuosa órbita fez-me
colidir com espaciais coincidências.
Viagem dentro de nós emblemática
e perfeita!...
Como posso em visionário sortilégio
deter-me nesta aventura admirável e
fantástica?!
Eu adentro o teu universo paralelo,
sem medos, sem bússolas, mapas ou
rotas.
Em espaçonave singular desbravo o
teu estelar alumbramento, conheço
extragaláxia.
Mistérios abissais permeiam esta
empreitada cibernética.
Sigo a tua luz interestelar, miríade
cintilante que me guia à tua Via Láctea.

20 de outubro de 2010

UTOPISTA (Cacau Loureiro)

Nem todo poeta sabe a poesia, nem toda poesia sabe o poeta...
Infeliz é o que não se traduz e não alcança a minúcia da Vida,
a preciosidade do Mundo.
Conheci pseudo poetas, conheci pseudo-humanos...
Impressionante a riqueza da natureza e a pobreza da alma
Humana, como ambos habitam este mundo comodamente.
A comunicação decerto está além das letras, o homem não se
comunica em alma, não se faz ler em espírito.
O poeta sabe ler as entrelinhas, sabe extrair a essência desta
lacuna chamada sentimento.
O poeta nunca será humano de fato, é preciso que ele esteja
transitando entre os mundos paralelos, não podendo pisar com
ambos os pés a crosta terrestre e nem habitar de vez o plano
astral.
O verdadeiro poeta sente dor sim, a dor do mundo, num parto
diário de si mesmo.
Cansei deste mundo caduco dos pseudo filósofos, cansei desta
vida futura que não vem, que não veio, que não virá, “estou presa
a vida” em que a poesia consome-me, mas há muito transcendi
a morte pela palavra que liberta, pela rima que crucifica, pelo verso que degola.
Ser poeta é ser visionário, é ser descobridor de si mesmo.

18 de outubro de 2010

EVOCARE (Cacau Loureiro)


As tuas asas imensas seguem para as montanhas do
tempo distante, para o passado morto nas ferragens
dos homens de aço, lá onde minhas mãos não mais
tocarão...
Mas, as sementes florescem onde as semeamos, porque
as raízes fortes não sofrem com as intempéries, mas
resistem custe o que custar.
Quando voltares, ainda haverá as flores, as quais não
tivemos a chance de vislumbrar.
Quando voltares, ainda cairão as chuvas que na pertinácia
ficaram retidas...
Quando voltares, ainda haverá o sol a impelir-me
para a interior iluminação.
O gérmen do futuro amor jamais perecerá, porque
o relicário maior dos homens ficará para a eternidade,
e nem as mãos dos seres que tecem a discórdia e
que propagam o egoísmo destruirão.
Este decurso extasiou-me o corpo, cultivou-me
o espírito na dor e no sofrimento, fez-me melhor.
Ah! Um dia eu fiz canções que minhas mãos não
poderiam compor, que o meu coração não poderia cantar.
Com a alma dos fortes, com o sentimento dos simples,
renascerei das cinzas, como fênix fabulosa em sua
ardente transformação!...

17 de outubro de 2010

DESDÉM (Cacau Loureiro)

O sol lá fora vai alto a esquentar a marcha dos
homens, a provocar seus corações frios...
A natureza vibrante da vida tem que nos
habitar, nada de fora nos preparará para nossa
própria revolução, para a transformação que
nos impulsionará adiante.
Tolos são aqueles que esperam a grande mudança
do mundo para iniciarem a sua própria.
Há pelos caminhos os estropiados de sentimentos,
há os cegos que só se enxergam, e sós estão...
Há os filósofos dos “conjecturismos” e os que
edificam sobre as areias seus alicerces egoísticos.
O sol haverá de nascer nos recônditos de nossos
âmagos, há de ser luz guiando-nos nesta empreitada
da vida, há de ser mestre a tirar-nos da ignorância.
Aos frouxos, covardes e omissos, o desprezo!...

6 de outubro de 2010

MOTRIZ (Cacau Loureiro)

As flores perfumadas do meu jardim estavam
estáticas no processo estagnado dos meus
ácidos sentimentos, verdade é que o mundo
não para, também as flores não... e elas
floresceram apesar dos espinhos, apesar dos
estacionados homens, contudo, não há pesares,
pois que os pesados fardos ficaram nas estações
já passadas...
A força do sol paira mais adiante, e eu espero, mas
não me contamino com a dureza dos seres, com
a fraqueza das almas, com a fleuma dos covardes.
Ah! Quisera alguns tivessem a força que me move,
o destemor que me conclama a seguir, que faz nascer
este ânimo visceral que ninguém estorva.
Quisera eu mover-me como as flores... que em seus
silêncios amam as palavras e despertam as almas.