PENSAMENTO DO DIA

Prefiro andar pelos vales sombrios junto aos lobos, do que em campos floridos ao lado de falsos cordeiros. (Felipe Melliary)

REFLEXÃO

"Não é preciso ter muita coisa na vida, tendo noção já é meio caminho andado, pois gente sem noção dá muito trabalho!"

29 de setembro de 2023

ZARANDA (Cacau Loureiro)

Entre a meio aberta janela eu puxo o vento

forte para mais perto.

Quero aspirar o vital fluido de minhas horas

antes mortas, silenciosas...

Ouço a bela música que entoa este meu

coração encantado porque a canção

composta pelas cordas da alma tem sons

indelevelmente inenarráveis!

Nesta roda de cores que fez nascer em

mim o teu arco-íris, eu ensaio tua ritmada

dança... assim, atrevo-me a conhecer a

esfinge que me enreda em teu enigma de

propostas e de sabores.

Pelas vias em que sigo veloz para o futuro,

eu procuro suas mãos, eu perscruto seus

olhos que palmo a palmo avaliam os riscos

deste bailado envolvente e bonançoso,

medem em palavras os desejos quem sabe

agora pressurosos... As minhas letras soltas,

presunçosas, um tanto ao quanto generosas,

colocam-te no centro desta minha ciranda

das rosas vermelhas e das amarelas flores...

onde os cravos brancos também cheiram...

Minha poesia feito girassol imponente,

convida-te a este vislumbre de luzes, ao

sol do ritmo lúdico das batidas viciosas

dos amores!...

28 de setembro de 2023

ESPELHO D'ÁGUA (Cacau Loureiro)

E caiu dos céus as águas dos enlevos...

Espelho d’água que revigora a alma...

Da soleira da porta vislumbro o caleidoscópio

em que se transformou o meu universo interior.

As águas e os ventos da regeneração invadiram

todos os meus canais de afeto trazendo o

movimento de tudo o que é novo...

Há um arco-íris a enfeitar estas esquinas da

vida, e em cada curva dá-se para admirar a

estrada, caminhos a serem traçados com

venturas, e, sem cansaços eu sigo demarcando

com as flores da poesia a quem me encontra.

Velozes são os olhares que não me veem, mas,

é lenta a lente com que os vejo neste rodopio

do autoconhecimento, moção do tocar e perceber.

E quero nestas águas tecer a rota dos afetos

primevos, porém, profundos, pois que, somente

no reentrante se pode moldar desejos reais.

Assim, lanço as sementes neste solo preparado

na autenticidade com a naturalidade dos que

tem o peito aberto para viver sem medo.

Nesta alegria que irrompeu da chuva brotou

a esperança... para muito se viver porque há

muito a se apreciar da vida... a vida que se fez

vida em mim... encontro! 

27 de setembro de 2023

VEM NO VENTO (Cacau Loureiro)


O calor desceu abafadiço, intrigantemente luminoso...
Mas, há um refrigério nestes dias que me renascem 
de um setembro exuberantemente novo, pacífico.
Meus girassóis em pleno jardim de amarelo ouro
coloriram singularmente esta minha primavera 
esmaecida pelo desencanto de dias solitários, ah!
Tanta gente acinzentada!
Precipita-se dentro de mim a chuva fina que faz germinar
as mais vívidas flores de pétalas que jamais previ.
Existirá céu para os encantados? Salvação para
os encantadores? 
A profusão em que me encontrei em tão poucos
dias calcou-me o espírito de esperança, criou ritmos
cadenciados em minha alma, profícua inquietação
em meu âmago letárgico.
Há uma música que me embala docemente nestas
horas esparsas, há um bailado de dias intermináveis
causando vertigem em minhas lembranças...
Eu fecho os olhos para ouvir esta canção que vem no
vento do futuro, assim, os meus sentidos acuro para
dedilhar as cordas de erudita viola... sonata fascinante
provendo a vida que em mim transborda ao som das
paixões imprevisíveis!

24 de setembro de 2023

SOL DE PRIMAVERA (Cacau Loureiro)

Ah! As flores da nova estação acordaram-me

o coração... Despertaram-me para os ciclos que

nos brindam todos os dias com a renovação!

E é tão belo ver a transformação do espírito na

confiança de que o sol da primavera nos seus

ventos vespertinos espalham as sementes de

uma jornada multicolorida... a existência pois, 

como um buquê de chegadas e partidas.

E os dias passam tranquilos na luz fulgurante

desse sol de primavera que aqueceu o meu peito

pródigo, e fez ressurgir a minha alma alegre.

Meus olhos úmidos e o meu sorriso largo cantam

as canções das flores raras... e abraçam as belezas

de um mundo novo e seguem os rumos das borboletas

e acompanham os caminhos dos pássaros.

Eu lavo minhas mãos para tocar em meu rosto

estático ante a dimensão das cores que me

tocam o âmago... e a vida é tão boa no rumo das águas,

e a vida é tão rara mesmo nos caminhos das pedras.

No cume dos anos eu descubro a livre criança 

a correr na clareira da eternidade, a refazer-se

no bosque da existência como gérmen de maior

poder, embrião de todo amor.

E eu enfrento o sol brincando ao derredor das

minhas interrogações adultas... e eu encaro o

céu ante as minhas infantis certezas.

Nos néctares onde os jardins se refazem e

eternizam a seiva da vida, eu vi nascer um

cravo em meu peito e rosas em minhas mãos!...

13 de setembro de 2023

VERTIGEM (Cacau Loureiro)

Comprime-me o cerne fina dor que 

constante e cortante segue em desafio

rumo ao meu ventre.

Em brasa, em desejo, em paixão

sinto-te presente em carne e osso,

em aura e espírito.

Não sei como conter esta força supra-humana,

atrativa que em mim é fogo, e me consome; 

é ferida aberta, acesa chama...

Quero os teus lábios, o teu sopro,

os teus dons mais próximos, em mim.

Cruel extravagância, ávida inspiração

que como fome atiça-me ao desatino.

E eu viajo em teus sons, em tuas letras

indefesa. Confesso-te que tudo arde

em fogueira insana, que tu me feres...

Não mais sei onde começa, onde

principia o teu encanto, já não mais

sei que direção estou seguindo, pois

que também não quero adiar toda esta

fúria do querer que me vai tomando.

O que me impele ao teu rosto, à tua pele

deixa-me em febre, em viração e calmaria.

Neste paradoxo em que me encontro

eu me debato... quero o teu ombro, o

teu colo, quero os teus beijos, arrebatar

todos os meus desejos em teu abraço.

7 de setembro de 2023

DESPERTA (Cacau Loureiro)


 Vem! Desperta para a minha boca 

que roça os teus lábios, sedenta... 

vem aplacar a urgência do meu cio.

Vem dar luz aos meus olhos que 

perscrutam o teu corpo, vem dar sentido 

às mãos que afagam o teu colo suado.

Meu corpo molhado, distorcido, não 

cansado, excitado misturado ao teu... 

faz-me viajar, chegar aos céus...

A tua pele, o teu corpo, o teu hálito, 

o teu cheiro, este sonho que é tanto 

há de ser mais que encanto... tesão 

puro e verdadeiro.

Vem, desperta! Vem beber o néctar

fresco e viscoso que há em meu

secreto corpo, vem provar o gosto

da libido que transborda do meu

desejo tolhido e caprichoso.

Vem, sem medidas, delibar o que

há em minhas entranhas, degustar

o mel de minhas palavras indecentemente

inocentes, atrevidas.

Desperta e vem! Para me beijar a boca,

para me seduzir a alma, para me intrigar

a cabeça, para me deixar indefesa, sem

sentidos, com sentido de anuência.

Abraça-me, fala-me indecências, solta

ao meu ouvido este grito reprimido de

desejo, de tesão, pois que estarei na

vigília, na espera... do teu gozo, do

teu corpo, do teu sexo.

O meu desejo não tem pudor, não tem

acanhamento; é impaciente, não aguenta

mais a urgência, e eu não quero me livrar

deste pecado, eu não quero resistir a

tentação, quero a demência...

Desperta e vem! Coloca-me na tua cama,

deixa à mostra minhas costas, o teu

falo... nem te falo..., confessas-me as

mentiras todas tuas, profanas, sacanas,

façamos um carnaval!... e eu, dar-te-ei

a prova do meu puro amor carnal.

AFFAIR (Cacau Loureiro)

 

Tua pele, teu cheiro, ainda estão

em minhas roupas; tuas mãos, teu

toque ainda estão em minha carne.

Meu pensamento voa e revolve a

lembrança: teu beijo exigente,

profundo, quente... um convite ao

profano; tuas mãos audazes,

intranquilas, invadindo a minha

essência... um convite a indecência.

Quero sim, seja assim, vem pra mim...!

Rigidez, nudez, languidez... ah! Quisera

eu estar nua agora diante de ti!...

Carências todas, desejos tantos!

Recusa tola, boba... mas, tinha que

ser assim naquele instante.

Lábios molhados, carícias quentes,

ansiedade louca, entrega iminente.

Gosto do jeito que me irrompes a

fera, que me fazes sentir bela.

A cidade inteira sob meus olhos

e seus olhos inteiros sobre mim.

Quero sim, seja assim.

Mãos, dedos, apertos, línguas,

arrastando todas as divisas,

remarcando todas as fronteiras,

tomando-me todos os espaços,

prendendo-me em teus laços,

suplantando as barreiras...

Breves abraços, vontade imensa,

minha alma transbordando, meu

corpo correspondendo, a ânsia

querendo ficar, meu juízo querendo

correr... quero ter, quero sim...

Por todo o afeto, por tudo que é

errado ou correto, quero sim,

quero ter contigo um affair.