PENSAMENTO DO DIA

Prefiro andar pelos vales sombrios junto aos lobos, do que em campos floridos ao lado de falsos cordeiros. (Felipe Melliary)

REFLEXÃO

"Não é preciso ter muita coisa na vida, tendo noção já é meio caminho andado, pois gente sem noção dá muito trabalho!"

2 de outubro de 2015

VERGÔNTEA (Cacau Loureiro)













Imagens perpassam meus olhos...

O passado como filme habita minhas
lembranças e ágeis e velozes os momentos
transpassam meu espírito, indeléveis...
A paixão fez de nós o que bem quis! ...
Ainda a caneta compulsiva te escreve
em minhas retinas, grava-te em meu
coração na própria poesia que em mim
se fez.
As estrofes que em mim crias e recrias todos
os dias, não tem fim, pois que princípio
és em todas as alvoradas novedias.
Há sol em tua aura, em tua calma que
me acalma fazes luz...
Seguir o coração é ensejar felicidade,
há voos insólitos nos versos que te seguem,
há estrelas eternas nas rimas que me fazes.
Teus ritos e rituais curam-me, apanágio
das benesses ancestrais.
Há benção em tuas mãos, sortilégio em
teus dedos, toca-me, pois, com tua
unção de paz, apazígua meu ânimo.
Em teus lábios a doçura das palavras
lavradas em doces águas, abundantes
rios de amor que sufragaram meu coração.
Mata-me a sede, sacia-me a fome,
reviva-me como rebento novo a se
erigir ao céu! ...


16 de setembro de 2015

ARCANOS (Cacau Loureiro)













Nos trilhos sem fim das grandes
cidades eu idealizo outros lugares,
outros sentimentos... sentidos.
Sombras e túneis, luzes corrediças
como as areias de nosso tempo...
Veloz... espectros do progresso.
As estradas como esfinges nos engolem
apressadas no duelo solitário de nossos
sonhos gigantes.
E, no entanto, nunca chego,
mas também, nunca parto.
O infinito cabe em meu peito
deslumbrante, incógnito, temeroso.
Na corda bamba de dias inúteis sou eu o
equilibrista e o bêbado a abrir um guarda
chuva sob as estrelas.
Estigma dos dias atuais a violência
sobrepuja o encantamento, mas poesia
ainda salva, dita ainda o ritmo das
palavras no dom maior de traduzir
o espírito humano.
E eu me abro ao tempo que escoa
como pó na ampulheta das esquinas,
nas horas fatigadas do trabalho.
Entre meus dedos habita o invisível,
o indizível de minha alma ali traçado
em minhas mãos... e eu profeta do
meu destino não sei decifrar os
seus sinais.

10 de setembro de 2015

PRECE DILETA (Cacau Loureiro)

















Até aqui o Bom Pastor guiou-me e
por Sua misericórdia estou de pé.
Há um Deus pleno e perfeito em
sabedoria que olha por nós e não
há força contrária a convicção da
onipotência que Ele exerce sobre
tudo e todos.
Nas areias do tempo suas pegadas
e ensinamentos são inefáveis.
Nos caminhos do Pai incenso, ouro
e mirra abrandaram meus lamentos,
apascentaram meu espírito, aquietaram
meu coração.
Unge-me oh Pai em teu óleo de santidade! 
Acerca-me de teus anjos!...
Lava-me o corpo com os cabelos da
humildade, perfuma-me as mãos! ...
Em teu cálice fecundo preencha-me
da fé que resguarda e cura.
No mar dos desenganos do mundo
silencia-me a revolta.
Que em pão e carne multipliquemos
o amor que patenteaste na cruz, e o
vinho levantemos no graal de ouro
que espraiaste tua presença para
sempre nesta terra em oblação de paz.
Ante as hipocrisias dos templos
expulsa-nos a fera bárbara que devora
os teus caminhos há muito preparados.
Nas arenas da modernidade que
possamos ser teus companheiros e
não o abandonemos ou repudiemos.
Que na fornalha das injustiças que 
degenera as gerações possamos ser 
homens a erguer a espada do perdão.
No outeiro das angústias possamos
ser cireneus da tua palavra, caminheiros
da verdade, peregrinos da salvação! ...

1 de setembro de 2015

FLORES TUAS (Cacau Loureiro)


Eu espero pela nova primavera...

Pelas flores que se arrefeceram num

torrencial de calores.
Aguardo pelas novas cores deste inolvidável
sentimento que vai ficando aos pedaços
nos trilhos frios do correr dos dias.
O tempo é remédio, mas segue veloz...
Porque sabemos que as ondas do tempo
também degeneram e arrastam lembranças.
Mas eu espero pelo renascer de novas
sementes... pelas sedas dançantes entre
os feixes de luzes que me iluminavam
as madrugadas.
De novo os sonhos e refeitos suspiros,
sem os cansaços do dia a dia do mundo.
Quero novamente a aurora a despertar
avermelhada no calor que me traz a tua
presença; horizonte onde deito meus olhos
e descanso meus cabelos para escrever meu
amor ao vento, tecer tua relva, beber teu orvalho,
nutrir-me da seiva na tua densa alegria...
Uma nova primavera para pintar o teu rosto, o
teu corpo e os teus lábios em minha aquarela multicor. 

26 de agosto de 2015

ANJOS MODERNOS (Cacau Loureiro)













Erigem- se dentro desta selva de pedras

as sementes da benignidade, tímidas

quase extintas.

Por estas trilhas do mundo muitos se

perdem pois não há como recolher maná

quando a ambição assola sonhos e projetos.

Objetos da violência dissimulada nos

entregamos sem resistência.

Ignoramos os caminheiros da esperança

que conosco seguem... Ouvidos apurados

apenas para as falácias inócuas, falsa oração

dos hereges.

Ocos senhores dos contemporâneos engenhos...

A casa grande desarrumada... Os podres poderes

a engendrar a falência do povo.

Judas amealha suas almas!...

Vislumbro calvários de todos os tempos, arca

de torturas, arcabouço dos desenganos, calabouço

dos covardes silêncios.

Anjos caídos somos a espera de um milagre.

Diante das omissões a consciência ainda nos

fala pelas vias do absurdo.

O tempo é escasso e veloz, até quando

esperaremos?

Até quando mastigaremos as pedras desta

selva de injustiças?! Levanta-te nação!

23 de agosto de 2015

TOLOS BÁRBAROS (Cacau Loureiro)

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Todo o possível será feito quando o refazer

também for quase impossível.

Por que insistimos em não ver?!...

Deixar em nós o que de fato nos

impulsiona para a vida ao invés de

escolhermos pela superficialidade,

pelo descomprometimento das

coisas passageiras.

O dedo na ferida não basta e o silêncio

bastará para fazermos a mudança?!

Aprendamos ouvir, mas também constatar

as falácias, discursos empobrecidos daqueles

que andam vazios, espectros das ostentações.

Quem nos olhará com o mesmo olhar que

pousamos?

Quem nos falará com o mesmo tom que

refratamos?

Sei pouco sobre a vida pois já dizia o poeta

que a caminhada se constrói com o caminho

que trilhamos. Quem terá o cajado da verdade

e a dignidade da justiça?!

Os que mais se sentem injustiçados são os

que tingem de sangue inocente suas espadas.

Haverá perdão para os genocídios requintados?

Pois quem acredita que vivenciamos a nova

era é um tolo.

Aqueles que permitimos ser são os que mais

nos mutilam.

Ouso caminhar contra as correntes...

A barbárie humana não me fará ser

omisso, tampouco, covarde!
 

6 de agosto de 2015

PODRE DIAMANTE (Cacau Loureiro)


Oro aos céus pelo não desencanto...
Deve haver um tesouro no final do arco-íris...
Esperança que não se desfaz.
Transeuntes, passantes... De onde vieram
alguns de nós bípedes?!
Desconheço quem é meu irmão nesta longa
empreitada.
Vejo invernos no olhar de homens crus onde a
cruz do sacrifício nunca valera nada.
Despontam nuvens como silos de provisões
barganhadas, num ir e vir sem sentido, ao vento,
ao léu, pobres seres humanos!
Ah! Animais indomáveis! Onde é farta a coleta
do que pertence a outrem. Pois o cultivo do
mal não pertence a ninguém?
Há sons e burburinhos vindos de todos os lados,
discursos vazios, silêncios da não transformação
que nos primitiva o espírito.
Digerimos o que um dia já fora intragável, onde
o fumo e a lama são meros instrumentos, pois
a grande avalanche está dentro de nós.
Oro aos céus pelo não desencanto...
Constato os guindastes que revolvem a terra e
erigem edifícios construindo o solo que não
pertence a ninguém.
A coragem enterrada sob a chuva de balas não
alegra as crianças, não eleva os homens, legado
de sangue não nos faz florescer para a dignidade;
religiões que não entoam um hino, não recriam canções,
não nos promete a terra nova que estaria por vir e
que já pertenceu a humana raça.
Os fatos, as fotos, imagens e mãos não nos inspiram
mais a esperança.
A violência e a fome, um corpo no trilho como
bagagem abandonada, a pedra esfumaçada dos
zumbis das cidades que vislumbram monumentos
nem de bronze, nem de ouro e nem de prata e
na lata o podre diamante da modernidade onde a
morte salta aos olhos e a vida adormece...