A miséria humana não está na incerteza dos acontecimentos que ora nos elevam, ora nos rebaixam. Está inteira no coração ávido e insaciável, que incessantemente aspira a receber, que se lamenta da secura de outrem e jamais se lembra da própria aridez. Essa desgraça de aspirar a mais alto que a si mesmo, essa desgraça de não poder satisfazer-se com as mais caras alegrias, essa desgraça, digo eu, constitui a miséria humana. Que importa o cérebro, que importam suas mais brilhantes faculdades, se elas são sempre ensombradas pelo desejo amargo e insaciável de algo que lhe escapa sem cessar; a sombra flutua junto ao corpo, a felicidade flutua junto à alma, para ela inatingível. Contudo, não vos deveis lamentar nem maldizer a sorte. Porque essa sombra, essa felicidade, fugidia e móvel como a onda, pelo ardor e pela angústia que deposita no coração, dá-nos a prova da divindade aprisionada na humanidade. Amai, pois, a dor e sua poesia vivificante, que faz vibrar vossos Espíritos pela lembrança da pátria eterna. O coração humano é um cálice cheio de lágrimas; mas vem a aurora, que beberá a água dos vossos corações; ela será para vós a vida que deslumbrará vossos olhos, cegos pela escuridão da prisão carnal. Coragem! cada dia é uma libertação. Marchai pelo caminho doloroso; marchai, acompanhando com o olhar a misteriosa estrela da esperança.
(Revista Espírita de 1860).
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