PENSAMENTO DO DIA

"A arte, meus amigos, não é um espelho do mundo, é sim, uma ferramenta para consertá-lo." (Vladimir Maiakovski)

REFLEXÃO

"Eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata. (Drummond de Andrade)

29 de novembro de 2022

FONTE VIVA (Cacau Loureiro)

 


Eu passei pelo deserto, não porque tenham me levado

pela mão, mas, sim porque o meu coração andou às

cegas pelas terras áridas do meu próprio desamor...

Quando me perdi, eu não lembro bem, o que sei é que

me resgatei a tempo de enxergar outros caminhos,

de beber em outras fontes, pois que para o íntegro não

faltará a água límpida da transformação!...

Aprendo todos os dias que todos temos os próprios

processos de crescimento e nem sempre será no

lapso que esperamos, e, por vezes, as estradas seguirão

direções opostas... e o divino nos colocará em sua mão

e nos direcionará para a colheita que merecemos.

Não há mais lágrimas, posto que as deixei faz tempo

rolarem no passado onde tentei ganhar tempo em

correrias sem sentido, em buscas imerecidas, sabendo

hoje que o que vale a pena é o meu tempo presente,

é a minha vida presente.

Separei os fardos, deixei de lado bagagens que

recolhi em estações erradas... contudo, conheci

lugares em que apesar da demora, trouxeram-me

paisagens nebulosas, vivências rascantes.

Eu busco o experimento do vinho novo... no frescor

de horas bem vividas, no delibar agridoce de cocriar

a cada dia a minha libertação de conceitos antiquados,

paralisantes... das escolhas que fiz para me doar sem

nada receber. Portanto, vou ao encontro do que mereço,

do que de fato semeei, posto que o Pai não nos abandona

à beira do poço sem nos oferecer a água da vida.

Sigo o meu caminho em espírito e em verdade,

pois que agora, meus olhos desvendados estão!...


16 de novembro de 2022

VOZES D'ÁFRICA (Cacau Loureiro)

 

As galés da alma humana aprisionaram Deus...

Ah! Os velhos pretos de sabedoria amarrados nos

porões que cortaram os mares de todo mundo

nascidos das mulheres fortes e valentes da terra

mãe da negritude.

Na poeira do tempo viemos nas caravanas...

Acorrentados em corpo e espírito pois que

o divino não poderia nos dar as mãos.

Ah! Limpamos com sangue nossas dores

para que nossos olhos estivessem sempre

abertos para a fé que move montanhas e que

até então não nos arrebentavam os grilhões.

Mas, o tempo é Senhor e Mestre forjados

nas parábolas do Cristo Salvador dando de

beber a água da vida à samaritana porque nos

desertos dos homens endurecidos Deus se fez

espírito e verdade em toda parte do globo para

que houvesse vida em abundância.

Então que todos nós fomos convidados ao banquete,

os mesmo que estavam pelos caminhos e valados

e buscamos conhecer a face de Deus.

As vozes d’África são femininas, as vozes silenciadas

nos subterrâneos da história patriarcal onde

tantas dores foram expostas, onde tantas

lágrimas foram derramadas, onde tantos ventres

foram roubados, onde tantas histórias foram

escondidas.

“...Basta, Senhor! De teu potente braço

Role através dos astros e do espaço

Perdão p'ra os crimes meus!

Há dois mil anos eu soluço um grito...

escuta o brado meu lá no infinito,

Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...”

(Entre aspas versos do Poema Vozes D’África de Castro Alves)


23 de outubro de 2022

EFATÁ (Cacau Loureiro)

 


O Deus vivo tocou-me o coração, disse-me

num sussurro... descansa.

E eu depositei no Senhor a confiança, pois sei

que no mar da Galileia acalmou a tempestade e

o meu espírito agora anda sobre as águas da paz.

Vou construindo um novo caminho doravante o

novo me transformará no melhor que há em mim.

As portas dos homens se fecham, contudo, as portas

de uma alma liberta são inúmeras e auspiciosas,

não há temor quando almejamos o bom, o belo

e o verdadeiro.

Minhas mãos um dia tocaram as pedras da ingratidão,

mas nunca olvidei que nos desertos dos homens

haveria as areias que se debatem criando as dunas

da intemperança.

De pé assisto ao milagre da vida, o bonito sol que

acende no horizonte restaurando todos os axiomas

do Grande Pai... Ah! Eu sei que a justiça é inexorável.

Os novos frutos os quais eu colho na árvore da

regeneração me são dulcíssimos e me alimentam a

fé no futuro e edificam a esperança imorredoura.

Portanto, a quem temerei?!

Nunca andei só pois Aba Pai me é escudo e amparo

em todas as horas e em todas as frentes...

“...Folguem e alegrem-se em ti todos os que te buscam...”

Em águas tranquilas eu sonhei... 

e conheci o efatá de Deus!

15 de outubro de 2022

A CURA (Cacau Loureiro)

 

Desejo de todo o coração que a febre do

mundo de hoje não te tenha acometido.

Que o discurso do eu primeiro não tenha

adoecido a tua alma e que o céu permaneça

morando em ti. E que também, continues 

enxergando os outros como teus irmãos,

a verdadeira sororidade do universo.

Eu desejo muito e de todo coração que tu

não tenhas destruído a boa criança que

existe dentro de ti, pois, só assim eu

acreditarei que este mundo tenha jeito...

E que a indignação não te tenha abandonado,

e que ela transforme e que ela possa

revolucionar através do amor incondicional

levando-nos as coisas belas.

Que as águas que curam possam acessar

nossos poços profundos já cheios de lágrimas

arrasadas...

E que o sol penetre abundantemente os teus

olhos e possa maleabilizar nossas almas agora

tão endurecidas pelo sofrimento porque eu 

sei que a dor é passageira.

Que possamos fazer o diferente porque mais

do mesmo já nos cansou faz décadas.

Ah! E que nossas mãos saibam o que é 

caridade e generosidade porque estamos

escassos assistindo a miséria com comiseração.

Também desejo profundamente que largues a

espada desta luta que travas contra si mesmo, pois

que matando-se também matas o melhor do outro.

E que aprendamos a viver para e com o outro

sem os óculos do egoísmo disfarçados de

empatia. E que o teu coração não se esquive do

perdão, daquele olhar de compaixão, daquela

alegria de compartilhar o melhor que somos com

o nosso semelhante apesar de todas as nossas

mazelas interiores.

Que saibamos num ato de coragem curar nossas

dores e as dores alheias, porque a dor tem que

nos tirar sempre deste lugar de acomodação.

Desejo, e desejo muito que conheças e reconheças

a gratidão, não pelo caminho estreito, mas sim pela

estrada linda, pelas linhas da palma de tua mão.

Desejo, ah! Como desejo... que tu tenhas a paz,

aquela que somente o divino pode dar, e de repente

reconheças num insight de ternura que somos apenas

passageiros e mal sabemos o tamanho da mala

que haveremos de deixar.

Desejo de todo o coração que o trem da vida te seja

leve e te leve às melhores paisagens e que tu

realmente as saiba admirar... e que este trem não

corra muito, mas também não corra pouco, só não te

deixes parado onde estás!...

É porque a vida anda depressa, e a vida é tão rara,

Ah, a vida! “A vida, o vento a levou!”

14 de outubro de 2022

AMOR FECUNDO (Cacau Loureiro)

 

Eu tenho regado as minhas sementes com lágrimas, mas

tenho certeza que o meu solo nunca foi seco, nunca,

jamais infecundo.

Então eu fito o horizonte, eu sei que meus anjos guardiões

embalam as minhas promessas.

Forjada fui na lealdade e sei que tantos e outros valores

estão comigo... permanecem e se perpetuam em mim...

A energia que me move é para a edificação, não para o

tormento, não para o adeus.

Meu caminho tem sido um rio longo, muitas vezes com

meandros, tem sido também uma longa estrada, tão

bonita, muitas vezes empoeirada.

E assim eu prossigo firme esperançada de que dias melhores

virão, pois em minhas mãos estão as flores, as que prometi

espalhar em minha peregrinação terrena.

Os astros, a lua, o sol, a minha conexão tem sido profunda,

e nesta sensibilidade que me aflora, tudo é tão maior...

A dor, a distância, as lembranças, de tudo que foi e ainda o é.

Os deuses... os que guiam essa humanidade desenfreada

me apontaram uma direção e nela tenho me mantido firme,

posto que firmes são os meus propósitos ante o divino.

No profundo da tristeza que me abarca, o que me abraça é

a minha fé... inabalável diante todos os percalços.

Em todas as possíveis derrotas eu vislumbrei um bem maior,

e nesta lição de vida para uma jornada as altas esferas,

eu sou um aprendiz impetuoso, pois eu galgo a ampla visão.

E eu apuro os meus ouvidos, e eu carrego o coração nas

mãos e eu sangro por dentro, e eu adormeço no amor inabalável

que se transforma, que se transfigura e que permanece.

11 de outubro de 2022

AO MUNDO MAIOR (Cacau Loureiro)

O sol nasceu novamente, e novamente neste dia de luz eu deposito

minha gratidão a Deus neste solo ressecado das humanas almas.

Meu caminho tem sido aprendizado!... Por isto aspiro sofregamente

a brisa que me chega aos pulmões com a coragem de um leão e

com a clareza de uma águia.

Eu sei que o etéreo me solicita transformação e não resignação,

visto que minha missão é caminhar e espalhar as sementes

que ainda trabalho e que ainda cultivo em meu incansável espírito.

Nada mereço, mas continuo a buscar... como andarilho 

impetuoso que tem a certeza que o burilamento está

na caminhada, pois que a chegada ainda será o ponto

de uma nova partida ao conhecimento superior.

Não tenho medo das dores, um peito aberto sempre sangra,

assim me vem a purificação e o entendimento.

Ah! Se soubesses o que é ser renegado, expulso de suas próprias

raízes... do solo que tu mesmo edificaste. Mas, a chave do meu

descanso não pertence a ninguém, por isto ouço cânticos.

Tolos são aqueles que pensam que tem a propriedade porque

neste mundo tudo é ferrugem que corrói. 

Uma porta é fechada, isto não quer dizer que nos perdermos

do caminho; os homens continuam sendo homens, porém, há 

na dimensão maior Aquele que olha e aponta e diz: eis o que escolhi,

e meus olhos te seguem, e o me cajado te protege, e minha luz te guia.

Desonrados, envergonhados, renegados, traídos... seja o que for que

tenhamos sido... descansemos.

Lanço a minha flecha, tenho certeza que ela chegará ao infinito, ao

mundo maior, no coração de Deus!...

30 de setembro de 2022

LUZ DO MUNDO (Cacau Loureiro)

 


No alvorecer de um novo tempo se alastra sobre

a Terra os raios da regeneração!...

É hora de saber que o sangue do Cordeiro não foi

derramado em vão.

Que os tolos postulantes a profetas silenciem, que 

não profanem as promessas do Divino Mestre ante

suas mãos douradas e suas charruas de prata que não

fazem germinar as sementes.

Que aqueles que como praga só espraiam iniquidades 

sobre o solo seco dos que estão cansados, sejam

reprimidos com a espada resplandecente da 

justiça, pois aos olhos apurados de Deus nada passa... 

Ah! Homens de pouca fé!

O céu está em nós, olhemos com olhos de ver,

ouçamos com ouvidos de ouvir, insensatos.

Nos caminhos do Mestre Jesus os frutos do amor

geram arrependimento e perdão, fonte de onde se bebe

do espírito santo a sabedoria inefável.

Que possamos lançar um olhar ao derredor e perceber

o quanto temos sido fariseus, pois o maior entre nós

deveria ser servo.

Homens das casas desertas, edificai o templo do Senhor

pelo exemplo e não pelas ofertas.

O altar dos adornos é o corpo de Cristo onde sua mãe

depositou suas lágrimas... e seu sangue derramado na cruz

purificou os corações e seus ensinamentos de esperança

edificaram os verdadeiros templos para um futuro de paz.

O amado Mestre fez conosco a aliança, pois que Ele é a luz

do mundo e “Sua palavra é lâmpada que ilumina os meus

passos e luz que clareia o meu caminho.”


28 de setembro de 2022

ÂNFORA DE PAZ (Cacau Loureiro)

 

Como chuva torrencial o teu amor me recobre, pois,

Tu és o manto balsâmico que cura minha alma...

Minhas mãos traçam os caminhos que como filigrana

marcaste para a minha jornada, por isto não temo

os caminhos dos lobos, tampouco, as penumbras dos

homens sorrateiros, ora inflexíveis em seus chicotes,

ora empedernidos em suas convicções extemporâneas.

As ondas da transformação encharcarão a todos, serão

o sal da terra e o sal das águas a limpar as páginas de

nossas histórias ultrapassadas, pois que nossos espíritos

para te receber de novo terão também que ser renovados.

Portanto, olhemos a frente, vislumbremos as ânforas que

a todo tempo estiveram a permear nossa estrada e até aqui

não enxergamos porque nossa sede não era de saciar-nos

o espírito, mas sim, aplacar nossas vicissitudes do corpo.

Ah! Eu não me esqueci que o teu amor zela por mim!

Da imensidão dos céus, da infinitude das terras Tu me

falas no profundo, minhas aflições Tu apascentas...

meus equívocos regeneras.

O meu âmago Tu transmudas, porquanto, és o Senhor de mim, 

és o Senhor de tudo que nos vivifica no contraditório da vida.

Deixa-me, pois, beber em teu cântaro de paz! Ah! Meu Pai do céu... 

Eu não me esqueci que o teu amor zela por mim!... 

18 de setembro de 2022

ELE VIVE (Cacau Loureiro)

 

Os ventos da esperança rasgam sobre as pedras,

agora rasteiros, não refrigeram os peregrinos que

caminham sob o sol escaldante dos desertos humanos.

O oásis que almejamos está como miragem ante as

imensas caravanas da alma humana... cegos, perdidos somos

na amplidão do amor divino ante as areias do tempo.

Viajantes das épocas não compreendemos ainda 

as rotas do coração, fanáticos pela matéria ainda não

deciframos os enigmas do céu.

O espírito humano ainda ignorante não criou as asas da fé

sobranceira que abarca todos os elementos do globo.

Não dimensionamos a mão portentosa que paira sobre 

nossas cabeças espargindo abundantemente perdão e amor.

Sonâmbulos caminhamos como zumbis perante os ensinamentos

do Pai quando sua misericórdia é chuva farta e fértil a entornar

nossos cântaros em todas as direções.

Homens, mulheres, jovens, crianças, anciãos!... Despertemos

para a vida copiosa que habita os inúmeros cânticos que

envolvem o planeta, a música suave que nos restabelece

das feridas e que nos eleva em essência.

Descerremos os olhos e o coração para a luminosidade

que transpassa as nuvens espessas da existência, pois que 

o Divino Mestre vive entre nós.

17 de junho de 2022

CALIGEM (Cacau Loureiro)

 

A neblina baixa ante meus olhos, espreito um

caminho diferente... contundente, indecifrável.

O que houve em minha jornada? Um lapso?

Um espaço que se abriu entre o antes e o agora

e me faz sofrer, e faz-me questionar todos os

meus conceitos caducos.

Num tempo em que o mundo se transformou no

caos, o meu cosmo interior clama pela revolução!...

Você eu que nos presumimos donos de tantas

verdades não sobrevivemos a realidade maior.

Pés presos as correntes de um espírito envelhecido

para os novos tempos, visão distorcida para a

amplidão de sentimentos... A expansão do ser

cobra o seu preço para os alienados, os cerceados

de coragem, tantos doentes de juízos vãos.

Entorpecidos estamos nos parênteses que é a cama

mortal dos desvairados, dos cheios de si mesmos.

Perdemos a chave da confiança, naturalizamos as

escolhas aéticas, reféns estamos na mesquinhez

humanoide que deteriora o espírito criador, a

liberdade divina, a ascensão da alma.

A guerra real das reles criaturas na face da Terra não

é mais mortal que o aniquilamento do espírito humano

em si mesmo.

Fechamo-nos para a árvore da vida que nos fez poetas

da eternidade, as máscaras de ferro hoje encerram

nossos sonhos em elos rompidos e corrompidos...

Decrépitos e arqueados para a visão do outro como

nós mesmos, pois, esquecidos de nossas raízes, somos

hoje avatares da escuridão!