PENSAMENTO DO DIA

"A arte, meus amigos, não é um espelho do mundo, é sim, uma ferramenta para consertá-lo." (Vladimir Maiakovski)

REFLEXÃO

"Eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata. (Drummond de Andrade)

16 de setembro de 2015

ARCANOS (Cacau Loureiro)













Nos trilhos sem fim das grandes
cidades eu idealizo outros lugares,
outros sentimentos... sentidos.
Sombras e túneis, luzes corrediças
como as areias de nosso tempo...
Veloz... espectros do progresso.
As estradas como esfinges nos engolem
apressadas no duelo solitário de nossos
sonhos gigantes.
E, no entanto, nunca chego,
mas também, nunca parto.
O infinito cabe em meu peito
deslumbrante, incógnito, temeroso.
Na corda bamba de dias inúteis sou eu o
equilibrista e o bêbado a abrir um guarda
chuva sob as estrelas.
Estigma dos dias atuais a violência
sobrepuja o encantamento, mas poesia
ainda salva, dita ainda o ritmo das
palavras no dom maior de traduzir
o espírito humano.
E eu me abro ao tempo que escoa
como pó na ampulheta das esquinas,
nas horas fatigadas do trabalho.
Entre meus dedos habita o invisível,
o indizível de minha alma ali traçado
em minhas mãos... e eu profeta do
meu destino não sei decifrar os
seus sinais.

10 de setembro de 2015

PRECE DILETA (Cacau Loureiro)

















Até aqui o Bom Pastor guiou-me e
por Sua misericórdia estou de pé.
Há um Deus pleno e perfeito em
sabedoria que olha por nós e não
há força contrária a convicção da
onipotência que Ele exerce sobre
tudo e todos.
Nas areias do tempo suas pegadas
e ensinamentos são inefáveis.
Nos caminhos do Pai incenso, ouro
e mirra abrandaram meus lamentos,
apascentaram meu espírito, aquietaram
meu coração.
Unge-me oh Pai em teu óleo de santidade! 
Acerca-me de teus anjos!...
Lava-me o corpo com os cabelos da
humildade, perfuma-me as mãos! ...
Em teu cálice fecundo preencha-me
da fé que resguarda e cura.
No mar dos desenganos do mundo
silencia-me a revolta.
Que em pão e carne multipliquemos
o amor que patenteaste na cruz, e o
vinho levantemos no graal de ouro
que espraiaste tua presença para
sempre nesta terra em oblação de paz.
Ante as hipocrisias dos templos
expulsa-nos a fera bárbara que devora
os teus caminhos há muito preparados.
Nas arenas da modernidade que
possamos ser teus companheiros e
não o abandonemos ou repudiemos.
Que na fornalha das injustiças que 
degenera as gerações possamos ser 
homens a erguer a espada do perdão.
No outeiro das angústias possamos
ser cireneus da tua palavra, caminheiros
da verdade, peregrinos da salvação! ...

1 de setembro de 2015

FLORES TUAS (Cacau Loureiro)


Eu espero pela nova primavera...

Pelas flores que se arrefeceram num

torrencial de calores.
Aguardo pelas novas cores deste inolvidável
sentimento que vai ficando aos pedaços
nos trilhos frios do correr dos dias.
O tempo é remédio, mas segue veloz...
Porque sabemos que as ondas do tempo
também degeneram e arrastam lembranças.
Mas eu espero pelo renascer de novas
sementes... pelas sedas dançantes entre
os feixes de luzes que me iluminavam
as madrugadas.
De novo os sonhos e refeitos suspiros,
sem os cansaços do dia a dia do mundo.
Quero novamente a aurora a despertar
avermelhada no calor que me traz a tua
presença; horizonte onde deito meus olhos
e descanso meus cabelos para escrever meu
amor ao vento, tecer tua relva, beber teu orvalho,
nutrir-me da seiva na tua densa alegria...
Uma nova primavera para pintar o teu rosto, o
teu corpo e os teus lábios em minha aquarela multicor.